Eduardo Oliveira – acadêmico do 6° semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
A teoria Neoliberal das Relações Internacionais, apregoada por Joseph Nye e por Robert Keohane, nasce, na prática, a partir do propósito de garantir uma solução pacífica de conflitos através de arranjos institucionais de cunho internacional. O sistema ONU é a maior concretização da teoria desde 1919, tendo como antecedentes a Liga das Nações de Woodrow Wilson, 28º presidente dos Estados Unidos.
Dentro do pós-Guerra Fria, e dentro da ONU, se notou uma diversificação das agendas internacionais, indo muito além dos estudos de paz e de segurança. Temáticas como a do clima, exemplificada pelo Acordo de Paris de 2015; a dos Direitos Humanos, com a perpetuação da DUDH de 1948; a do Desenvolvimento Sustentável com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, tornaram-se fundamentais a partir do estabelecimento da moral internacional como um fator a ser levado em conta.
Em Power and Interdependence (1977) é trazido a pauta aquilo que Joseph Nye nomeou como ‘Tabuleiro Tridimensional’, o qual relaciona-se com a distribuição de poder na contemporaneidade. Para ele, o poder é dividido em três esferas: militar; econômica; transnacional/temas globais. Os temas globais, nada mais são do que ‘temas que os estados sozinhos não são capazes de resolver, e convertem-se, na prática, mediante a Governança global institucionalizada. O fato desses temas ultrapassarem as fronteiras nacionais dos estados, ou seja, afetarem o sistema internacional de maneira geral, demanda a utilização da multilateralidade em forma de institucionalização.
As eleições estadunidenses chegaram em um período conturbado, interna e externamente. Como plano de fundo, a pandemia do novo coronavírus com os seus mais de 50 milhões de casos em todo o mundo, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2020). Internamente o país enfrenta crises ligadas a pandemia, através das políticas pouco efetivas de Donald Trump. O país vem sendo rechaçado internacionalmente pela onda de violência policial, homicídios, todos oriundos de racismo e homofobia. Além disso, durante os anos do governo de Trump, o país desacreditou no multilateralismo, saindo de organizações e tratados importantes, como o Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Tratado de Paris e a Organização Mundial da Saúde.
Aliado ao isolacionismo “trumpista” com tons neoliberais, o aumento dos privilégios das grandes corporações em formato de redução de impostos, políticas anti-imigrantistas, guerras comerciais, enfraquecimento do NAFTA, negacionismo científico, extinção de programas assistenciais de saúde, vulgo ‘Obama-care”, é o quadro geral da erroneamente autoproclamada “américa”.
Em contraposição a este cenário, em uma eleição histórica, com mais de 75 milhões de votos, além da maioria dos votos no colégio eleitoral e findando a era republicana, elege-se, segundo projeções, como 46º presidente dos Estados Unidos, Joseph Robinette Biden Jr., político estadunidense filiado ao partido democrata, ex vice-presidente no governo Barack Obama (CNN, 2020).
Em seu primeiro debate com Trump, Biden prometeu sanções ao Brasil, caso as políticas ambientais, em relação à Amazônia, não tomassem outra direção. Além disso, prometeu, que no seu primeiro dia de governo, os Estados Unidos irão voltar ao Tratado de Paris.
Com base no que foi dito, é visível que o governo de Joe Biden terá prioridades bem contrárias ao governo de Donald Trump, isto é, a multilateralidade retornará, a qual, é de fundamental importância para dar soluções concretas às agendas internacionais. Assim, o isolacionismo perderá a vez, pois a teoria neoliberal voltará a ser um instrumento de análise para a política externa estadunidense.
A governança, a aquiescência, o compromisso com a diversidade são chaves para a amenização e, até, solução de controvérsias. Que o caso estadunidense seja exemplo para as demais nações do mundo, a fim de provar os custos da unilateralidade, do descaso com o meio ambiente, de uma sociedade partidarizada e dividida, como é nos Estados “unidos”.
REFERÊNCIAS:
América Decide: Resultado das eleições do Estados Unidos. CNN Brasil, 2020. Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2020/11/03/eleicoes-nos-eua-2020-resultado>. Acesso em: 09.out de 2020.
KEOHANE, Robert O; NYE, Joseph S. Power & Interdependence. 4 Ed. New York: Ed. Longman Classics in Political Science, 2011.
Painel do WHO Coronavírus Desease (COVID 19). Organização Mundial da saúde, 2020. Disponível em: < https://covid19.who.int/?gclid=Cj0KCQiA7qP9BRCLARIsABDaZzjGmxevYPU-BJoWIcel4-0Lf_7VYCgtrEQg7HL-ylj1UKqd1zZ8KPcaAsHzEALw_wcB> Acesso em: 09.out de 2020.