Larissa Schoemberger – Acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Olhando para o passado da diplomacia brasileira pode-se dizer que o Brasil vivia em ‘tempos de glória’ comparado com o que temos hoje. De acordo com Cervo e Bueno (2002), a diplomacia brasileira entra para a história no governo de Luiz Inácio (Lula) da Silva, quando o Estado brasileiro sai da política de neoliberalismo do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) e entra no paradigma de Estado Logística trazendo consigo a chamada ‘diplomacia da reciprocidade’, se tornando dessa forma a diplomacia mais admirada e tida como referência dentro do cenário internacional levando o Brasil para o lado da interdependência real.

Como essa mudança de política externa afetava o Brasil dentro do cenário internacional? O Brasil passou a expressar uma nova ordem de linha de ação externa, começando a acompanhar os países emergentes com o propósito de democratizar a globalização e distribuir os benefícios da ordem internacional, fazendo alianças com esses países emergentes que tinham objetivos parecidos, o de combater a fome e a pobreza. Sua diplomacia foi marcada pela cooperação Sul-Sul. A política exterior do Governo Lula focava também na expansão do comércio e no incentivo a internacionalização das empresas brasileiras.

Naquele período a diplomacia brasileira criou o conceito de multilateralismo da reciprocidade, que segundo Cervo e Bueno (2002), Lula não queria apenas o livre comércio, mas um que se caracterizava na reciprocidade; e isso se estendia para todas as áreas, econômica, comércio, segurança, questões ambientais, saúde e direitos humanos. Apesar dessa diplomacia ter reconhecimento mundial alguns diplomatas, como Celso Amorim, têm suas ressalvas quanto a essa dependência de reciprocidade que o Brasil adotou em sua política para com os outros países, além desse conceito existe outro marco histórico nessa política do Brasil que é sua luta dentro da OMC sendo defensor da liberalização dos mercados ajudando assim a criar o G20 comercial que era composto por países emergentes dispostos a impedir as decisões das potencias do Norte nas negociações multilaterais.

Com a troca de governo do Lula para o governo Bolsonaro, acontece uma drástica mudança na diplomacia brasileira, o que antes era pautada na interdependência real hoje se expressa no alinhamento automático com uma forte dependência dos EUA, como afirma queridíssimo ex-secretário geral do Itamaraty Samuel P. Guimarães (2020). Alguns analistas ouvidos pela BBC, CNN, entre outros, dizem que no governo atual, nossa diplomacia está nas mãos dos ‘ideologistas’, o que contribui para o descrédito do brasil no cenário internacional afastando a diplomacia brasileira dos princípios constitucionais vigentes na carta magna e aproximando a vontade do governo atual.

Isso traz alguns pontos negativos para o Brasil dentro do cenário internacional como o enfraquecimento da cooperação Sul-Sul, o que antes estava em foco no governo Lula, a perda de vantagens dentro da OMC, por abrir mão de benefícios voltados para países em desenvolvimento para tentar se equiparar a países hegemônicos como os EUA, a perda de parcerias com a China em algumas esferas comerciais, por causa do alinhamento automático estadunidense, problemas na cooperação com alguns países da União Europeia, e até mesmo com algumas Organizações Internacionais como foi o caso da OMS. Recentemente até ocorreram tensões entre diplomatas venezuelanos e brasileiros apresentando um grave retrocesso na política de unificação dos povos latino-americanos.

Além dos fatos citados, ocorreu recentemente o discurso do presidente do Brasil na AGONU repleto de fake news sobre a gestão do governo brasileiro e acusações em cima de outros países sobre difamar o Brasil, o que contribuiu para piorar a imagem brasileira dentro do cenário internacional. Com todas essas repercussões negativas em cima da gestão do governo atual o presidente muda seus aliados de extrema direita para centristas, mas não houve nenhum indício dessa mudança se refletir na sua política externa.

Caso a política externa brasileira continue dessa forma ela tende a decair mais e mais, levando enfraquecimento do Brasil como potência regional, e a perda de cooperação entre os vizinhos latinos americanos, além da perda de investimento e parcerias com países europeus, e mais perda de parceria com a China, que hoje ainda é seu parceiro comercial número um. Com a vitória atual do candidato democrata nos EUA, analistas dizem que é esperado uma ‘reinvenção’ da política externa brasileira, e um enfraquecimento do governo Bolsonaro. A imagem do Brasil dentro do cenário internacional pode mudar se houver a troca de governo em 2022, no caso desse novo governo voltar para as políticas multilaterais, e mesmo assim, a recuperação da credibilidade brasileira poder ser muito lenta, isso vai depender de como o próximo governo vai administrar a política externa e interna do Brasil.

REFERÊNCIAS:

CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais/Editora da Universidade de Brasília, 2002, p. 525-560.

DIÁLOGOS DO SUL. Venezuela Decide Enfrentar Jair Bolsonaro E Anuncia Que Não Vai Retirar Diplomatas Do Brasil. Diálogos Do Sul. Jundiaí (Brasil). 2020. Disponível em: <https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/america-latina/64458/venezuela-decide-enfrentar-jair-e-anuncia-que-nao-vai-retirar-diplomatas-do-brasil&gt;. Acesso em: 07/11/2020.

GUIMARAES, Samuel Pinheiro. A Política Externa Brasileira I. 2020. Disponível em: < https://www.ritimo.org/A-Politica-Externa-Brasileira-I>. Acesso em: 08/11/2020.

PRIOLI, Gabriela. Os Melhores Piores Momentos do Discurso do Presidente na ONU. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Qs-oHWsW9Go&t=998s>. Acesso em: 08/11/2020.

QUADROS, Vasconcelo. Acuado, Bolsonaro namora o Centrão e radicaliza o discurso. 2020. Disponível em: < https://apublica.org/2020/05/acuado-bolsonaro-namora-o-centrao-e-radicaliza-o-discurso/>. Acesso em: 08/11/2020.

SCHREIBER, Mariana. Vitória de Biden é revés para Bolsonaro e exige mudança na política externa brasileira, dizem analistas. BBC. Brasília, 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54830893. Acesso em: 08/11/2020.