
Natalia Porpino – Acadêmica do 2° Semestre de Relações Internacionais da UNAMA
A guerra do Haiti foi uma revolta em prol da independência do país do império francês e a quebra da sociedade escravista da época. No século XVIII o país tinha como economia as plantations e a escravidão. A maioria da população haitiana era negra, escrava, criolla – filhos de franceses e nativos e/ou pretos –, juntamente a supremacia branca liderada pela França que colonizou o oeste de Santo Domingos, que era a colônia mais rica da época, devido à movimentação do açúcar. Os escravos fazendo parte de meio milhão da população, eram maltratados cruelmente.
As insatisfações diante do contexto político, econômico e social se iniciaram a partir do século XVIII. As revoltas foram sentidas no ano de 1791 quando o líder militar, Toussaint L’Oveture, reuniu escravos para atacar a população branca que naquele local residia, expulsando colonizadores e reivindicando a liberdade que lhes era de direito. Como a população escrava era maior tinha apoio do império inglês e espanhol, a armada francesa não foi capaz de combater a revolta.
Em agosto do mesmo ano começa a guerra civil haitiana, com a maior parte da ilha controlada pelos revolucionários. Após conflitos sangrentos por soldados da revolução e franceses, o fim da escravidão é proclamado em 1793, sendo formalizado pela admissão da derrota francesa em 1794. Toussaint após a guerra ainda assumiu a governança do Estado em 1801, até a chegada das tropas napoleônicas – que queriam reimplantar as leis francesas e a escravidão nas colônias -, o aprisionarem. Contudo, militares napoleônicos morreram de febre amarela e os demais foram dizimados pelos soldados haitianos.
Os revolucionários se baseavam na Revolução Francesa para motivá-los a liberdade, igualdade e fraternidade na nação, já que se fala de um país com a população oprimida, prisioneira e desigual. A partir do primeiro conflito interno, outras revoltas foram desencadeadas. O ex escravo Jean-Jacques forma outra revolução, tomando posse imperial da ilha em 1804, chamando a de Haiti. E assim, a população haitiana se reconheceu livre da dominação francesa.
Entretanto, a independência trouxe consequências para o país. Parceiros comerciais se distanciaram com medo da revolta, limitando o mercado e causando uma crise econômica no país. Ademais, a ilha teve que pagar indenização à França para o reconhecimento da independência (ocorrida apenas em 1834). A agricultura também ficou fragilizada pelas batalhas travadas.
“A revolução do Haiti representa o mais completo caso de estudo de mudança revolucionária em qualquer lugar da história do mundo moderno.” A importância da independência do Haiti para o mundo antigo quanto para o moderno é significativa. Santo Domingos foi a primeira ilha caribenha a proclamar a independência, a qual foi feita diretamente pela população escrava no país, causando mudanças sociais, econômicas e políticas, não só em seu território, mas internacionalmente.” (KNIGHT, 2000)
Quebrando barreiras estabelecidas pelos colonizadores brancos, os quais acreditavam na hierarquia racial, modificando o mundo em que se vivia o qual já possui uma estrutura estável de opressores e oprimidos, escravistas e escravizados. Assim, alterando a visão dos imperialistas no poder. “O modelo haitiano de formação do Estado impulsionou medo xenofóbico nos corações de todos os brancos de Boston a Buenos Aires e despedaçou a satisfação deles sobre a inquestionável superioridade de seus próprios modelos políticos”. (MARQUES, 2017).
Sendo assim, é notável a essencialidade da revolução haitiana, suas causas e consequências. Deixando uma população livre, com seus direitos civis, políticos e humanos sendo acatados, como também impactos estruturais de uma guerra que afetou o território da ilha, e suas demandas nacionais e internacionais. Essa revolução gritou ao mundo que a supremacia branca não está no poder por direito, que a hierarquia racial (já comentada) ou o darwinismo social não são justificáveis, e sim meios de dominação. Portanto, o povo haitiano fez seu destino e retomou o seu Estado para si.
Quer saber mais sobre a Guerra da Independência Haitiana? Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=dLqfDkpchUc>
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AZEVEDO, Gislane e SERIACOPI, Reinaldo. Editora Ática, São Paulo-SP, 1ª edição. 2007, 592 p.
BEZERRA, Juliana. Independência do Haiti. Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/independenia-do-haiti/ Acesso em: 14 de Outubro de 2020.
BUNDE, Mateus. Independência do Haiti. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/independencia-do-haiti. Acesso em: 14 de Outubro de 2020.
KNIGHT, Franklin W. The Haitian Revolution. The American Historical Review, v. 105, n. 1, p. 103-115, 2000.
MARQUES, Pâmela Marconatto. Narrando Revoluções com os Pés no Haiti: A Revolução haitiana por Michel-Rolph Trouillot e outros intelectuais caribenhos. Revista De Estudos E Pesquisas Sobre as Américas, v. 11, n. 3, 2017.
Excelente temática, uma revolução que continua pertinente. Bom ver uma acadêmica ainda no segundo semestre falando de algo tão relevante. As referências estão ótimas pra quem quer se aprofundar.
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