Antonio Amorim – Acadêmico do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

No âmbito das Relações Internacionais, é possível entender o comportamento beligerante de um país principalmente através da teoria realista, em especial pela teoria neorrealista de John Mearsheimer conhecida como “realismo ofensivo”. Segundo Mearsheimer, todos os Estados almejam hegemonia regional, logo, “estão sempre procurando oportunidades de ganhar poder sobre seus rivais, tendo a hegemonia como objetivo final” (MEARSHEIMER, 2001: 29). Em outros palavras, os conflitos são inevitáveis.

A partir disto é possível entender como as ações do Império Turco-Otomano em plena Primeira Guerra Mundial incidiram na perpetração do Genocídio Armênio. Os principais responsáveis pelo planejamento do genocídio foram os membros do Comitê para União e Progresso, partido político nacionalista que aglutinava os chamados “Jovens Turcos”. Entre os nomes mais influentes estão os dos ministros de Estado Mehmet Talaat Paxá e Ismail Enver Paxá.

Historicamente, armênios, curdos, gregos, judeus e outros povos conviveram por séculos no Império Otomano. No século XIX, o império começava a perder seus territórios na Europa e, com o início da Primeira Guerra Mundial, o governo otomano temia perder também as terras ocupadas historicamente pelos armênios na Ásia Menor. Além disso, os armênios estavam situados na fronteira entre os impérios otomano e russo, o que interessava a ambos pela posição estratégica de guerra.

Nesse contexto, o governo dos Jovens Turcos implantou a política do “panturquismo”. O objetivo era instaurar no Império Otomano uma política que valorizasse os povos turcos e turco-descendentes em detrimento de outras etnias, sobretudo aquelas que adotavam o cristianismo, como os armênios, gregos e assírios.

No dia 24 de Abril de 1915, 250 líderes e intelectuais foram presos em Constantinopla, atual Istambul, capital do Império Otomano. A partir de então tropas regulares e paramilitares se dirigiram para cidades de todo o país obrigando as famílias armênias a deixarem suas casas em caravanas de deportados rumo aos desertos da região, principalmente Der-el-Zor. Centenas de milhares de armênios foram deportados de suas casas e terras. Muitos morreram no caminho por fome, sede, inanição, moléstias ou atacados pelas tropas que deveriam zelar pela sua integridade física.

Até hoje o governo turco não aceita a alegação que o país antecessor da República da Turquia, o Império Otomano tenha cometido genocídio contra o povo armênio. Além de argumentar com base em fatos históricos distorcidos e dados maquiados, o Estado turco toma medidas autoritárias para evitar que dissidentes apoiem as reivindicações armênias, como a aplicação do artigo 301 do Código Penal que pune com prisão aqueles que ofenderem os valores da nação turca. Esse dispositivo já foi utilizado diversas vezes contra intelectuais que alegaram que os armênios otomanos foram alvo de um genocídio.

Após a matança sistematizada, em 1923, começou uma diáspora de armênios pelo mundo fugindo das tragédias e consequências deixadas pelo genocídio. Muitas comunidades armênias passaram a concentrar-se em países como França, Síria, Estados Unidos e Brasil (inclusive, a maior comunidade armênia fora da Armênia reside no Brasil, especificamente em São Paulo).

Não obstante, vários famosos seja no Brasil ou no exterior são descendentes de armênios, como por exemplo a atriz, modelo e socialite Kim Kardashian, a cantora Cher (Cherilyn Sarkisian), a atriz da Globo Aracy Balabanian etc. Contudo, deve-se destacar os membros da banda de rock System Of A Down, os mais conhecidos e engajados na causa armênia.

Todos os membros da banda são de etnia armênia e cresceram em uma pequena comunidade armênia da Califórnia. O grupo de sucessos como “Toxicity”, “Chop Suey” e “B.Y.O.B.” começou em 2006 a fazer campanha nos shows pelo reconhecimento do genocídio armênio pelos Estados Unidos. Ainda sim, a banda possui algumas músicas que fazem referência explícita ao imperialismo turco que levou ao genocídio, dentre elas “War?” e “P.L.U.C.K.”.

O vocalista Serj Tankian, cujo avô é sobrevivente do genocídio, e o baterista John Dolmayan participaram de protestos e do filme “Screamers”. Em 2015, a banda começou uma turnê em lembrança do centenário do massacre, com um show gratuito em Ierevan (capital da Armênia).

Hoje, a principal luta de milhões de armênios e não armênios é pelo reconhecimento mundial das atrocidades cometidas pelos Jovens Turcos durante a Primeira Guerra Mundial como um genocídio. Até agora, mais de vinte países reconhecem a existência do genocídio armênio. Porém, o Brasil não figura nessa lista.

Todos os anos, na semana do dia 24 de abril, manifestações públicas em memória das vítimas do genocídio são organizadas em São Paulo, com o objetivo de dar visibilidade ao acontecimento histórico, à luta do povo armênio e pedir reconhecimento aos governos de Brasil e Turquia, dentro dos marcos democráticos e pacíficos. 

A meta central de cada Estado é maximizar sua parcela de poder mundial, o que implica na obtenção de poder às expensas de outros Estados. Mas as Grandes Potências não apenas disputam para serem as mais poderosas de todas entre elas, embora essa seja uma resultante bem-vinda. O objetivo derradeiro é se tornar um hegemon – isto é, a única grande potência no sistema (MEARSHEIMER, 2001, p. 2). Isso explica a atitude imperialista da Turquia sobre a Armênia e o seu avanço para além do sul do Cáucaso.

Atualmente isso se confirma no conflito entre a Armênia e o Azerbaijão mas com forte influência turca, O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinian, denunciou que se trata de um problema internacional, já que a Turquia “transfere terroristas da Síria para combater o Nagorno Karabakh e a Armênia”, e nas ações militares “o Exército turco participa”, o que revela a política imperialista de Ancara, que visa ” restabelecer o Império Otomano “. 

REFERÊNCIAS:

Mearsheimer, J. “The Tragedy of Great Power Politics”. Nova York, W.W. Norton, 2001

SPUTNIK NEWS. Armenia alerta a Europa de que la “política imperialista” de Turquía podría llegar “a las puertas de Viena”. Disponível em: < https://mundo-sputniknews-com.cdn.ampproject.org/v/s/mundo.sputniknews.com/amp/politica/202010041093003538-armenia-alerta-a-europa-de-que-la-politica-imperialista-de-turquia-podria-llegar-a-las-puertas-de/?amp_js_v=a6&amp_gsa=1&usqp=mq331AQFKAGwASA%3D#aoh=16020845034402&csi=1&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&amp_tf=From%20%251%24s&ampshare=https%3A%2F%2Fmundo.sputniknews.com%2Fpolitica%2F202010041093003538-armenia-alerta-a-europa-de-que-la-politica-imperialista-de-turquia-podria-llegar-a-las-puertas-de%2F >. Acesso em: 07/10/2020.

UOL. Kim Kardashian, Cher e Fiuk são filhos da diáspora armênia; veja outras celebridades. Disponível em: < https://m.folha.uol.com.br/asmais/2015/04/1620617-kim-kardashian-cher-e-fiuk-sao-filhos-da-diaspora-armenia-veja-outras-celebridades.shtml >. Acesso em: 04/10/2020.

Genocídio Armênio – 100 anos de luta. O que é? Disponível em: < http://genocidioarmenio.com.br/o-que-e/ >. Acesso em: 04/10/2020.