Fabrizzio Quadros – acadêmico do 8º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

Usando o método da Economia Política Internacional, é possível analisarmos de forma objetiva a paisagem cratológica – cenário de jogo de poder – dos atores que vem dominando boa parte da riqueza global. Esses atores serão apreciados na ótica das quatro estruturas de poder inseridas na incrível obra de Susan Strange, “States and Markets” (2015), junto a ímpar visão da história da economia política internacional de Robert Gilpin em “o desafio do capitalismo global” (2004).

Gilpin (2004) explica que a caminhada da economia política internacional ao fim do sistema de Bretton Woods foi política e tinha como objetivo criar uma nova ordem mundial baseada em valores americanos. Esses valores estavam fixados em uma ordem liberal que se baseava em desregulações em áreas cruciais para os Estados. Dentre elas, estava a desregulação dos fluxos financeiros.

Estudiosos de renome, como Kindleberger, em Manias, pânico e crises” (2017), já anunciavam o fim do bem-estar social como conhecemos, dado que: “O sistema financeiro em uma economia de mercado é instável, frágil e predisposto às crises” (688-691, tradução do autor). Mas também, houve mudanças estruturais nefastas que criaram um ambiente de vale-tudo graças ao estado de “anarquia”, criado com essa liberalização desastrada. “O papel dos fluxos financeiros internacionais, que transformaram a economia global na década de 1970, não havia sido previsto, não tendo sido desenvolvidas regras para gerir as questões financeiras” (GILPIN, 2004, p.95, tradução do autor).

O domínio da estrutura do conhecimento é descrito de forma objetiva por Joseph Stiglitz, no livro: “Os Exuberantes anos 90” (2003). O autor cita que as organizações internacionais como o FMI e o Banco Mundial propagaram a visão do neoliberalismo ao redor do mundo, enquanto os outros Estados simplesmente tinham os EUA como grande referência de economia bem-sucedida do mundo. Logo, segundo Strange (2015), o domínio dessa estrutura quer dizer uma mudança de percepções e crenças oriunda de uma ideia que modifica o juízo de valor e, logo, as políticas econômicas e socias.

O estado de “anarquia” também culminou com a criação de empresas transnacionais e as antigas empresas multinacionais foram se descolando do Estado-sede, atuando como um forte ator nas relações internacionais. Sendo assim, são grandes corporações que atuam de maneira selvagem no mercado, fazendo ações de lobby e caça predatória a outras empresas. Dominadas por sua absoluta maioria por intermediários financeiros, ou seja, bancos, fundos de investimentos são liderados por financistas. Esses grupos de especuladores, com um vasto poder financeiro, são capazes de desestabilizar as condições monetárias e de produção por meio de especulação financeira ou pela falta de abastecimento através das suas empresas.

Tendo conhecimento desses fatos, o capitalismo rentista é definido por Bresser-Pereira (2018) como uma organização econômico-social, dessa forma, os capitalistas são predominantemente rentistas e os altos executivos são em boa parte financistas. Com a mudança nas características dos executivos e da crença do lucro fácil neoliberalista espalhados pelo mundo, há a busca pelo capital improdutivo, isto é, o antigo empreendedor da cidade busca menos risco e mais lucro obtidos por meio de bolsa de valores, cobrança de juros, entre outros produtos financeiros.

Portanto, essa paisagem é importante, porque esse sistema subverte o processo de acesso às políticas públicas, especialmente pelos financiamentos de campanhas e a redução drástica de produção real na economia, gerando o desemprego, a perpetuação da pobreza e a ampliação da desigualdade gerada por um ciclo que leva ao endividamento dessas pessoas em troca de alguma dignidade, por parte negada pelo Estado. Conduzindo à conclusão que “a desigualdade é fruto de um sistema institucionalizado cuja dinâmica estrutural precisa ser revertida” (DOWBOR, 2017, p.25).

Referências

BRESSER-PEREIRA, L. C. Capitalismo financeiro-rentista. Estudos Avançados, São Paulo, n. 32, p. 17-29, Março, 2018.

KINDLEBERGER, Charles P. Manias, pânicos e crises: A história das catástrofes econômicas mundiais (eBook Kindle. Ed.). [S.l.]: Saraiva, 2017.

DOWBOR, L. A era do Capital Improdutivo. São Paulo: Autonomia Literária, 2017.

GILPIN, R. O desafio do capitalismo global. [S.l.]: Editora Record, 2004.

STIGLITZ, J. Os exuberantes anos 90: Uma nova interpretação da década mais próspera da história. [S.l.]: Companhia das letras, 2003.

STRANGE, S. States and Market (eBook Kindle. ed.). [S.l.]: Bloomsbury Academic, 2015.