A CONTRIBUIÇÃO DA TECNOLOGIA NA PRESERVAÇÃO DA CULTURA INDÍGENA – Arte,  mídias e tecnologias

Larissa Santos – Acadêmica do 8° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

O surgimento das Relações Internacionais como área de estudo no início do século XX está ligado, principalmente, à temática das guerras entre os Estados, e mais adiante, nas formas de conquistar a tão almejada paz. Entretanto, a globalização e o avanço das tecnologias de informação e de comunicação permitiram a aproximação entre os diferentes âmbitos de estudos e dissímeis níveis sociopolíticos e econômicos, tornando-a multidisciplinar.

O uso de das tecnologias tornou a transmissão de informações efêmera e lépida; o ciberespaço proporcionou a “dissolução” das fronteiras entre os Estados, além de ampliar a participação sociopolítica e a expressão internacional da sociedade civil, tanto no meio interno, quanto no externo.

Dessa forma, a internet e as redes sociais vem sendo mundialmente instrumentalizadas como ferramentas nos processos de articulação dos movimentos sociais. A nova era de lutas sociais, inaugurada pelo ciberespaço, proporcionou aos grupos excluídos uma possibilidade de expor as suas reivindicações além das fronteiras, conquistando apoio e/ou solidariedade internacional. A demanda por apoio externo, utilizando a internet, tem sido uma ferramenta utilizada por parte da comunidade indígena a fim de fazer valer os seus direitos, além de expor as “distintas formas de auto-representação, delineadas pela visibilidade e pela tomada da palavra eletrônica”.

Ressalta-se que a presença indígena na rede não se tornou importante pelo número de nativos conectados, e sim, pela desconstrução das formas narrativas que esse acesso proporciona.

Nesse contexto, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) se tornaram ferramentas essenciais na mobilização e propagação das causas de apoio para os indígenas, visto que, elas permitem a transposição de fronteiras nacionais, geram impacto internacional e conquistam a opinião pública para, então, promover mudanças no comportamento do governo brasileiro.

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), exempli gratia, busca promover processos de comunicação mediada por TICs para estabelecer parcerias. Exemplo disso são projetos que foram firmados com a The Nature Conservancy (TNC), a Ford Foundation, a ONU Mulheres e  entre outros.

Entretanto, apesar dos avanços na auto-representação sociopolítica, ainda há uma exclusão e um silenciamento latente nas vozes e preocupações da população indígena.

Essas formas de exclusão são apresentadas no trabalho teórico crítico de Andrew Linklater. O autor questiona as formas de exclusão socioeconômicas, culturais, raciais e étnicas fomentadas pelo particularismo do Estado e acredita que a função da Teoria Crítica é “trazer à tona as forças que trabalham contra a hegemonia e contra as estruturas presentes no sistema internacional”.

Em outras palavras, a formação de uma comunidade de diálogo aberto questionaria as diretrizes atuais das relações internacionais ao criticar os parâmetros de exclusão e coerção de grupos marginalizados. Dessa forma, a teoria crítica traça uma linha de investigação que visa promover a emancipação ou a liberdade humana na condução de assuntos globais, mas também, instiga as lutas de redistribuição e de reconhecimento, identificando o potencial das mudanças progressivas inspiradas em ideias, normas e práticas particulares. Ou seja, as pessoas,  e não o Estado-nação, devem ser colocadas no centro dos estudos políticos globais.

Assim, a análise da relação das comunidades indígenas e o meio externo, através das Tecnologias de informação e comunicação, possuiria o objetivo de “descolonizar” a Amazônia e desenvolver o entendimento sobre política global contemporânea, tendo em vista que o modelo ocidental de supremacia e o domínio, estabeleceu-se pela exclusão das formas de organização social indígenas.

Ao inserir-se no ciberespaço, a população nativa adquire o poder  de expressar-se por si mesma, sem a interferência direta de terceiros, ou seja, ela tem o poder de emancipar-se. Geralmente “apadrinhados” pela mídia ou por Organizações Não-Governamentais (ONGs), as comunidades indígenas apresentam-se no imaginário popular como sociedades primitivas, mas ao conectar-se, os indígenas apoderam-se dos discursos e transformam a concepção usual sobre eles, contribuindo para a desconstrução do imaginário indígena como “indivíduo não-civilizado” e mostrá-lo como parte atuante da sociedade civil global.

Ademais, o aumento da preocupação com o meio ambiente e da cooperação internacional com as mudanças climáticas proporcionaram a ampliação da participação indígena global, tendo em vista que os povos indígenas são definidos como “guardiões da floresta”.

Referências:

CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais. – Brasília: FUNAG, 2012.

JATOBÁ, Daniel. Teoria das Relações Internacionais. Editora Saraiva – São Paulo, 2013.

COMBERTI, Claudia; KORODIMOU, Michaela; THORNTON, Thomas. Addressing Indigenous Peoples’ Marginalisation at International Climate Negotiations: Adaptation and Resilience at the Margins. Working paper, ECI, University of Oxford (November 16, 2016).

MARTÍNEZ, Margarita María Bautista. O uso das TICs nas Organizações Indígenas do Brasil e da Colômbia: Estudos de Caso da COIAB e da ONIC. São Paulo, 2014.

PEREIRA, Eliete; Ciborgues Indígenas.br.: A Presença Nativa no Ciberespaço. 1. ed. Brasília: Annablume, 2012.