Paula Castro – acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

A teoria neorrealista das Relações Internacionais parte do princípio de que o Estado é o ator mais relevante presente no cenário internacional, defendendo sua racionalidade e legitimidade pela busca de seus interesses. O teórico do realismo defensivo, Kenneth Waltz, discorre sobre a estrutura anárquica do sistema internacional, que faz com que os Estados busquem a sua sobrevivência, já que, existe uma constante ameaça de guerra, e não há nenhuma entidade que impeça estes conflitos de ocorrerem (BITTENCOURT, 2017). Desta forma, por somente se basearem na autoajuda, as unidades estatais procuram aumentar e aprimorar o seu poder bélico e militar para garantir a sua segurança, a sua sobrevivência no sistema e defender-se de possíveis ameaças. Entretanto, Waltz (1979) alega que a posse desses recursos militares, não necessariamente, resulta em guerra, mas sim, inibe os Estados de conflitarem entre si, ocasionando um equilíbrio de poder no sistema (SELIS, 2011).

A República Popular da China vem investindo fortemente no Exército de Libertação do Povo (ELP), que é o principal setor das Forças Armadas do país, composto pelas forças terrestres, marítimas e aéreas (JUNIOR, 2014). De acordo com o SIPRI – Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (2020), a nação asiática gastou US$261 bilhões em 2019, perdendo apenas para os Estados Unidos no ranking de países com maior gasto militar. Neste ano, o Pentágono divulgou um relatório alegando que a China já alcançou, ou até mesmo, já ultrapassou o poder militar e tecnológico dos EUA em diversas áreas, além de pretender a dobrar o seu arsenal nuclear em 10 anos (BROWNE, 2020). Apesar da nação estadunidense ter gastado US$471 bilhões a mais no setor militar do que os chineses, o relatório do governo estadunidense alega que o orçamento publicado por Pequim omite diversas despesas importantes, como pesquisa e desenvolvimento de armas, o que faria o arsenal chinês maior e mais poderoso ainda.

De acordo com o exposto acima, nós podemos observar que, em um sistema internacional anárquico, há uma forte probabilidade de ocorrer uma guerra, e isso faz com que os Estados invistam pesadamente em poder bélico e defesa militar, já que, segundo Kenneth Waltz, o principal objetivo das unidades estatais é garantir a sua sobrevivência, e é por este motivo, que cada Estado busca aumentar o seu poder para se defender de possíveis ameaças externas, tendo em vista a distribuição desigual de capacidades. Portanto, o risco de eclodir um conflito entre China e Estados Unidos não é alto, pois ambos estão investindo em sua segurança nacional, fato que resulta no equilíbrio de poder no sistema internacional. Mas também, por causa da rivalidade comercial e econômica em que as duas potências se encontram hoje, a chance de ocorrer um conflito físico é pequena, tendo em vista a racionalidade dos Estados, defendida pelos realistas.

Referências:

BITTENCOURT, Paulo Victor Zaneratto. POLÍTICA INTERNACIONAL, DO PENSAMENTO REALISTA À TEORIA NEORREALISTA: O pensamento teórico de Hans Morgenthau e Kenneth Waltz em perspectiva comparada. Rio de Janeiro, 2017.

BROWNE, Ryan. China pretende dobrar arsenal nuclear em 10 anos, diz relatório do Pentágono. 02 de setembro de 2020. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2020/09/02/china-pretende-dobrar-arsenal-nuclear-em-10-anos-diz-relatorio-do-pentagono>. Acesso em: 14/09/2020.

JUNIOR, Arthur Coelho Dornelles. A modernização militar da China e a distribuição de poder no leste asiático. Rio de Janeiro, 2014.

SELIS, Lara Martim Rodrigues. Deslimites da Razão: Um estudo sobre a teoria neorrealista de Kenneth Waltz. Brasília, 2011. Stockholm International Peace Research Institute. Military expenditure. 2020. Disponível em: <https://www.sipri.org/research/armament-and-disarmament/arms-and-military-expenditure/military-expenditure>. Acesso em: 13/09/2020.