Alana Andrade – acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

Susan Strange é um dos expoentes teóricos da Economia Política Internacional. Pioneira no Reino Unido, trouxe à tona debates importantes em torno do Capital Financeiro, do poder norte-americano pós Segunda Guerra Mundial e principalmente, da necessidade de convergência entre os objetos de estudo da Economia e da Ciência Política. Suas pesquisas mostraram a importância de se ver além do viés da relação de poder apenas entre Estados, que a área das Relações Internacionais (RI) estava acostumada até então.

Por volta dos anos 60 e 70, o campo de estudo das RI se pautava sobretudo em duas correntes teóricas, realismo e liberalismo. Ambas as teorias consideram o Estado como um importante agente de poder dentro do Sistema Internacional, como o locus em que as relações de poder são realizadas. Para a primeira corrente o conflito é inevitável, visto que todos os Estados buscam poder (MORGENTHAU, 2003). Entretanto, para a segunda corrente, apesar do Sistema Internacional não possuir poder superior capaz de controlar os Estados e seja, por isso, anárquico, estes ainda podem cooperar para resolver seus problemas e ainda “dividir o palco” com outros atores, mesmo que não sejam mais os atores principais (NYE; KEOHANE, 2001).

Susan Strange, por sua vez, passa a considerar a intervenção do interesse de outros atores nas relações de poder no sistema internacional, em especial das empresas que detêm a capacidade de barganhar seus objetivos com o Estado, uma vez que o mercado tem o poder de produzir, criar crédito, assim influenciar na decisão estatal (ALENCAR; NUNES, 2018). Essa barganha entre autoridade política e mercadológica, segundo a autora, irá influenciar diretamente nas quatro estruturas da economia política global. Ou seja, tais atores possuem o Poder Estrutural que é a capacidade de alterar a gama de escolhas disponíveis aos demais agentes que operam na estrutura (ALENCAR; NUNES, 2018), sendo elas a financeira, a produtiva, a segurança e a de conhecimento.

A autora especifica também a centralidade da estrutura financeira em frente às demais, na medida em que é o local onde são decididas as taxas de cambio das moedas na qual o crédito é denominado, o que acontece a partir da barganha entre governos e bancos. Além disso, outro aspecto importante da esfera financeira, é que também ali o crédito é criado, e este se converte em investimento na segurança ou em pesquisa e desenvolvimento (esfera do conhecimento), e é capaz de interferir na capacidade de produção (esfera produtiva).

Em conclusão, Susan Strange expõe um novo método de análise baseado na interferência de outros interesses dentro das relações internacionais. Ultrapassa-se a ideia de que apenas os Estados possuem poder de mudança dentro do sistema internacional. Este, na verdade, negocia com o poder dos atores de mercado para determinar aspectos da vida financeira.

Portanto, a autora nos brinda com um alargamento do horizonte de possibilidades dento da área de estudo das Relações Internacionais com mais uma variável para a equação que visa compreender com maior profundidade o ambiente internacional.

REFERÊNCIAS:

ALENCAR, F. B.; NUNES, L. S. F. Susan Strange: poder estrutural e hierarquia monetária, uma breve discussão. Revista de Geopolítica, v. 9, n. 1, p. 125-142, 2018.

KEOHANE, R. O; NYE, J. Power and Interdependence: World Politics in Transition. Boston: Little Brown, 1977.

MORGENTHAU, Hans. A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. São Paulo: EDUNB, 2003.

STRANGE, Susan. Casino capitalism. Manchester: Manchester University Press, 1997.

________________. States and Markets. New York: Continuum, 1994.