Isis Mayra – acadêmica do 8° semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

A transição das teorias positivistas para as pós-positivistas no campo das ciências sociais em geral trouxe à tona diversos debates que antes eram negligenciados pelas Relações Internacionais, entre eles os debates em torno do meio ambiente e das problemáticas que a humanidade gerou ao longo do processo de exploração dos recursos naturais. Assim como, debates relacionados aos efeitos causados pela expansão do capitalismo no ecossistema global, sejam eles políticos, sociais ou econômicos.

A segunda metade do século XX traz o construtivismo como uma leitura alternativa dos grandes embates teóricos entre o neorrealismo e o neoliberalismo, de forma a criticar pontos tradicionais da área, como a forma hierárquica que as teorias mainstream abordavam os assuntos, muitas vezes desconsiderando a importância e influência de diversos atores e temáticas. (CASTRO, 2016)

Um dos maiores autores do enfoque construtivista nas R.I. foi Emanuel Adler; em textos como  O Construtivismo no Estudo das Relações Internacionais, de 1999, podemos analisar os  principais conceitos da teoria, que possui um olhar diferenciado para o sistema internacional, não como uma hierarquia de poder estruturalmente constituída, mas sim uma co-construção de estruturas que estão em constante transformação e que mutuamente se influenciam. Assim, as relações humanas não podem ser predeterminadas e nesse contexto os construtivistas abrem espaço para novas teorias, novos atores e novas agendas no ambiente internacional. 

Para que possamos pensar no contexto de desmatamento e queimadas na região amazônica é importante entender que esse espaço possui uma relação de colonialidade com o Estado-Brasil e com outros agentes internacionais. Isso significa que a Amazônia é vista como algo a ser explorado e dominado – conceito muito ligado a perspectiva capitalista sobre a relação do homem com a natureza – gerando assim, uma história baseada em formas diferentes de colonização presentes neste ambiente (BECKER, 2004).

Por se tratar da maior floresta tropical do mundo, presente em 9 países da América Latina e com o mais extenso e volumoso rio de água doce, a Amazônia garante equilíbrio da temperatura e das chuvas de todo o continente americano, entre outras influências analisadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Esse órgão é responsável pelo monitoramento e publicação de dados sobre a região, além de possuir um caráter separado dos demais órgãos do governo que fiscalizam e são responsáveis por garantir a proteção socioambiental. 

Desde 1988, o INPE divulga os dados obtidos acerca do desmatamento da Amazônia e ao longo desse período podemos perceber ciclos de oscilação de redução e aumento ligados ao desflorestamento na região. Entretanto, um dado alarmante aponta  que a partir de 2017 esses números aumentaram consideravelmente, o que  tem trazido preocupação de diversos atores nacionais e internacionais, que vêm pressionando o governo federal do Brasil para impedir que as áreas de proteção sejam ainda mais atingidas.

Os últimos registros divulgados pelo INPE mostram que os desmatamentos ilegais vêm aumentando vertiginosamente, com mais de 9,2 mil quilômetros quadrados (km2) de desflorestamento, ao mesmo tempo que os órgãos fiscalizadores do estado estão enfraquecidos, afastando assim investimentos estrangeiros de organismos internacionais. As declarações dadas pela presidência da república e os ministérios agrava ainda mais a imagem do Brasil no meio internacional.

A crise ambiental vivida pelo planeta terra é alertada por cientistas há várias décadas, manifestada pelo discurso de que estamos esgotando, poluindo e queimando o meio em que vivemos e que dependemos para a nossa sobrevivência. O sistema capitalista está provocando instabilidades que tornam a reversão de uma construção de um futuro mais sustentável e ecológico cada vez mais distante de alcançarmos. Ao contrário, vivemos uma regressão de diversas lutas socioambientais que passaram por anos até alcançar resultados mais palpáveis.

As relações conflituosas na região, agravadas pelas crises econômica e política global em que vivemos atualmente, trazem para os debates questionamentos complexos e infinitos a serem abordados, entretanto precisamos repensar nossas instituições nacionais e internacionais e promover os projetos de cooperação entre os agentes, visando a superação das crises e dos discursos que negligenciam a ciência, a educação, a cultura e o meio ambiente.

REFERÊNCIAS:

http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/.

https://ipam.org.br/cartilhas-ipam/desmatamento-em-foco/.

https://jornal.usp.br/ciencias/desmatamento-da-amazonia-dispara-de-novo-em-2020/.

http://www.inpe.br/institucional/sobre_inpe/historia.php.

BECKER, Bertha K. Geopolítica da Amazônia. Conferência do Mês do Instituto de Estudos Avançados da USP proferida pela autora em 27 de abril de 2004. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ea/v19n53/24081.pdf.

Castro, Thales. Teoria das Relações Internacionais. Fundação Alexandre De Gusmão. 2016. p. 387-392ADLER, Emanuel. O construtivismo no estudo das Relações Internacionais. Lua Nova, n. 47, p. 201-246, 1999.