
Paolla Aquino – Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Hoje a coreia do norte é um dos poucos países que ainda mantém o socialismo do período da guerra fria, e talvez seja o único que ameaça de forma indireta a comunidade internacional com seu hard power, tendo em vista essas características tão única é notório o impacto que este país provoca no sistema internacional e dessa forma é importante analisarmos na área das Relações Internacionais. Ademais, o construtivismo sendo uma teoria pós-positivistas sai do campo das teorias mainstream das R.I e promove uma nova visão não só do campo macro mas também do micro assim permitindo análises do sistema internacional trabalhando com o social, diferente das teorias mainstream, a teoria construtivista apresenta que o mundo está em constante mudança e por conta disso entendemos que nenhuma ideia é fixa.
Essa teoria não é apenas uma teoria, mas também uma linha de raciocínio por expor que a realidade é socialmente construída. Alexander Wendt, que popularizou o construtivismo na disciplina de RI, com o artigo “Anarchy is what states make of it” (1992) já sugere um grande ponto o qual a teoria construtivista trabalha, que é o papel das ideias no meio social, como o artigo “A perspectiva construtivista das relações internacionais” expõe: “estruturas são definidas, principalmente, por ideias compartilhadas, e não por forças matérias” e “as identidades e interesses dos atores são construídos por aquelas ideias compartilhadas”.
O construtivismo não negligencia as forças materiais, entretanto apresenta que o significado dessas forças materiais grande parte se deve à função das ideais, por exemplo, capacidade militar sendo sinônimo de obter ou manter poder dentro do sistema internacional. Wendt dentro do debate entre materialismo e idealismo expressa: enquanto o materialismo entende os efeitos do poder e interesse dos atores por meio das forças materiais ‘brutas’; o idealismo entende esses conteúdos por meio da função das ideias. Assim, Alexander Wendt abre espaço para o materialismo residual (‘rump materialism’) e assim discute que as forças materiais brutas (capacidade militar, tecnológica, geográfica e recursos naturais) tem efeito na política internacional e “it cannot be ideias all the way down”, logo Wendt conclui que é só devido a interação das ideias que as forças matérias tem efeito na política internacional.
A Coreia do Norte que vive um regime monárquico, socialista e ditatorial desde a Guerra Fria é considerado hoje um país atrasado e subdesenvolvido comparado a Coreia do Sul, a qual é vista como exemplo de desenvolvimento para o mundo inteiro; nos anos 60 e 70, a Coreia do Norte ainda apresentava uma renda semelhante a Coreia do Sul e após o fim da URSS (seu grande aliado), com o decorrer dos anos o país passou por grandes crises que afetaram sua economia e fez com que fosse instalado uma onda de fome entre os anos de 1994 e 1998.
Contudo, mesmo esse país asiático praticando o isolacionismo, ou seja, fechar-se economicamente e/ou politicamente em relação a outros Estados e apesar de não ser uma potência econômica ou ideológica, a Coreia do Norte desde que expôs seu programa nuclear, é vista como uma potência militar. Os primeiros testes com mísseis balísticos ocorreram em 2006, e segundo Richard Rhodes, em um artigo na revista Foreign Affairs, os motivos para a existência desse programa são: a certeza de que o território norte-coreano não será mais invadido; e a geração de energia elétrica por meio da energia nuclear, para repor a capacidade hidrelétrica bombardeada pelos Estados Unidos durante a Guerra da Coreia.
Mesmo com a mudança de presidente em 2011 e sanções econômicas no país, o programa nuclear ainda continua e em 2017 foi realizada uma série de teste que preocupou toda a comunidade internacional e como o país tem controle estatal da economia, da imprensa e da sociedade como um todo, a visão que a Coreia do Norte transmite é de não cooperação.
Dessa forma, vemos que a Coreia do Norte trabalha com as forças materiais brutas para passar uma mensagem para o sistema internacional, contudo só é devido a interação com as ideias que essa mensagem é de fato construída e como o artigo “A perspectiva construtivista das relações internacionais” expõe: “[…] a estrutura material e a ideacional compõem um todo articulado: sem ideias não se pode compreender os interesses, não se pode atribuir significado às forças materiais; e sem forças materiais não há realidade”.
Ao analisarmos as ações da Coreia do Norte expostas neste artigo junto com a teoria construtivista vemos a importância de entendermos que as ideias compartilhadas estão inseridas no que diz respeito a compreensão do poder e do interesse dos atores e assim entendemos seus propósitos de acordo com suas ações.
REFERÊNCIAS:
CHAGAS, Inara. Coreia do Norte: conhecendo um dos países mais fechados do mundo. Disponível em: < https://www.politize.com.br/coreia-do-norte/amp/ >. Acesso em: 22 de julho de 2020.
PUC, Rio. A Perspectiva Construtivista das Relações Internacionais. Disponível em: < https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/5513/5513_3.PDF > Acesso em: 22 de julho de 2020.