Alana Andrade – Acadêmica do 6° Semestre de Relações Internacionais da UNAMA
É visível o crescimento da presença chinesa no cenário internacional a partir do início deste século. O processo que levou a chegada deste Estado ao nível atual, tampouco é repentino ou não planejado. Trata-se de um plano que se inicia por volta da década de 70 no governo de Deng Xiaping, o qual desencadeia uma série de reformas econômicas e abertura comercial na China, que, apesar de ser tardia, traz resultados positivos (RÊGO,2014). Por tanto, como consequência deste desenvolvimento pautado em incentivos à industrialização e atração de investimentos estrangeiros, atualmente a China representa um dos principais players internacionais no campo econômico e político. Entretanto, é válido considerar que esse Soft Power chinês, como é considerado o poder de atração ou econômico segundo o teórico de Relações Internacionais Joseph Nye (2001), é atualmente eficaz na busca da sua hegemonia no sistema internacional?
De acordo com Gill e Huang (2006), existem diferentes fontes, além do campo econômico e político, que fomentam o Soft Power também conhecido como poder brando. Questões culturais, ideologia política e diplomacia constroem a imagem de um país no exterior, sendo ela positiva, para aumentar sua credibilidade diante dos cidadãos de outro país, que passam a querer fazer parte daquela cultura ofertada, ou até mesmo, influenciar nas decisões políticas estatais através da confiança e modelo de diplomacia que aquele Estado passa, ao configurar seu Soft Power para atrair parceiros comerciais ou estratégicos na comunidade internacional.
É de conhecimento que o “American Way of Life” moldou a cultura ocidental a partir da segunda metade do século XX, propondo uma imagem idealizada americana de felicidade e perfeição, seguida até hoje pelas pessoas, principalmente imigrantes, que buscam esse sonho. Ou seja, há mais de 60 anos somos influenciados pelo poder de atração estadunidense, que agora enfrenta outro adversário no campo político-econômico, e também procura expandir o alcance do seu Soft Power. A China, mais fortemente no início do século XXI, foca numa política de “desenvolvimento pacífico” para não acionar a desconfiança nos Estados vizinhos, buscando oferecer apoio econômico principalmente para tratá-los como parceiros e fazê-los se sentirem seguros. Entretanto, como pontuado por Gill e Huang (2006), no campo cultural, a China ainda não se encontra no mesmo patamar americano quando observamos que o marketing das suas marcas não possui o mesmo atrativo que as empresas já estabelecidas como McDonald’s, Apple, Microsoft ou Facebook, ou seja, não promovem a cultura chinesa, ou, quando adotam certos aspectos, ainda é dentro dos moldes ocidentais “americanizados”.
Como o próprio Nye (2000) aponta, os Estados mais prováveis de projetar seu Soft Power numa era de informação, são aqueles em que a sua ideia dominante é mais próxima das normas globais, que enfatizam o liberalismo, o pluralismo e a autonomia. Os recentes protestos em Hong Kong e a violenta repressão chinesa contra os manifestantes (ISTO É, 2020), vem contra a imagem “pacifica” que a China busca passar, enfraquecendo seu poder de atração em países cuja opinião pública se baseiam em regimes democráticos e liberdade de expressão, de modo que apesar do poder econômico, a China ainda não conseguiu traduzi-lo para uma linguagem persuasiva, a qual ande lado a lado com os “ideais mundiais”, principalmente relacionados com os Direitos Humanos.
Referências:
GILL, Bates; HUANG, Yanzhong. Sources and limits of Chinese ‘soft power’, Survival: Global Politics and Strategy, 48:2, 17-36, 2006. DOI: 10.1080/00396330600765377
Até onde pode ir a “Guerra Fria” entre China e EUA. Isto É, 18 de jul. de 2020. Disponível em: https://istoe.com.br/ate-onde-pode-ir-a-guerra-fria-entre-china-e-eua/. Acesso em: 18 jul. 2020.
NYE, Joseph S; KEOHANE, Robert. Power and Interdependence, Estados Unidos, Longman, 2001.
NYE, Joseph S., ‘Soft Power in the Information Age’, luncheon lecture, Harvard University, 2 May 2000.
RÊGO, T. C. de L. da C. Crescimento chinês na 1ª década do séc. XXI e suas consequências na economia global e no comércio exterior brasileiro. Orientador: Prof. Edison Peterli. 2014. 40 p. Monografia (Bacharelado em Economia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/733/1/Monografia%20-%20Tain%C3%A1%20Cardoso%20DRE110059109.pdf. Acesso em: 16 jul. 2020.