Maria Eduarda Diniz – Acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Quando a Guerra Fria acabou, muitos acreditaram que não seria mais preciso temer armas nucleares, afinal, elas eram apenas um “aviso” entre as duas potências da época e, com o fim, acreditava-se que a vitória pertencia aos Estados Unidos e que eles não precisavam avisar ninguém de sua capacidade destrutiva, nem existiria outra grande força para a qual seria necessário mandar um aviso de força. Porém, o século XXI chegou e as armas nucleares permanecem entre nós, sem uso. Para muitos que ainda temem que o fim chegue através das armas nucleares, é comum usar como argumento que, num mundo anárquico, o egoísmo dos Estados levará a destruição.
Robert Keohane, teórico neoliberal das Relações Internacionais, não nega a anarquia do mundo, nem que os Estados sejam seguidores fiéis de seus próprios interesses. Porém, ele argumenta que acreditar apenas na capacidade destrutiva dessa busca é pouco racional. Grande defensor das instituições internacionais, o autor trata sobre um institucionalismo neoliberal, em que a cooperação é possível em uma anarquia internacional quando, por exemplo, os atores compartilharem interesses mútuos. O autor determina alguns graus de institucionalização, sendo: as organizações intergovernamentais e transnacionais não governamentais, os regimes internacionais e as convenções ou regras implícitas dentro do sistema (SARFATI, 2005).
Enquanto algumas teorias defendem que, no sistema internacional, existe uma relação de um ganhador e, necessariamente, um perdedor. Keohane não crê nessa hipótese. Ele defende que as relações entre os atores internacionais não são apenas de um ganhador, mas uma em que todos saiam ganhando no processo. Nenhum Estado deseja o seu próprio fracasso, por isso, beneficiam-se da cooperação, principalmente sobre temas consideradas globais, como o meio ambiente ou a questão nuclear. Buscar benefícios mútuos é o que mantém a harmonia do sistema (ADRIANO; RAMOS, 2012).
Quando se analisa o mundo atual, principalmente as ações dos Estados Unidos, muito se teme de que a guerra nuclear seja algo inevitável e que o melhor a se fazer é se preparar. Porém, a posse de armas nucleares, os testes e estudos em cima disso, por serem entendidos como uma espécie de “jogada”, servem de aviso aos demais de que existe uma arma pronta para ser usada, mas que não será utilizada.
No sistema internacional ações isoladas podem gerar crises globais, principalmente quando não são controladas. Isso significa que os Estados têm muito a perder se uma guerra nuclear acontecer e, por isso, tentam prevenir isso de todas as formas, seja pelo Conselho de Segurança da ONU, ou pelo Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, seja por acordos bilaterais como era o START, entre Rússia e Estados Unidos, entre outros. É comum acompanhar nas mídias testes que a Coreia do Norte faz de suas armas, que a Índia e o Paquistão estão perto de um conflito nuclear, ainda que os Estados Unidos estão alocando tropas e armas nucleares em diversos espaços (HELLMAN, 2010?).
A preocupação aumenta quando algo sai errado, por exemplo, quando os Estados Unidos e a Rússia romperam com seu acordo de controle de armas nucleares ou quando aconteceu o assassinato do general Soleimani, do Irã. Nesse momento, todos se preparavam para o pior, todavia, essas armas não foram utilizadas porque o risco de perdas a esses Estados seria maior e o restante da comunidade internacional atua para pressionar esses detentores de armas nucleares a sempre lembrar mais dos riscos envolvidos num confronto nuclear, além de se lembrar do cuidado e do controle dessas armas, para que não haja risco de serem utilizadas por atores não estatais, como os grupos terroristas (CHARLEAUX, 2017).
As instituições atuais, principalmente o Conselho de Segurança, atuam para vetar ações preventivas que envolvam armas nucleares e, como Keohane demonstrou em seus estudos, as convenções e regras implícitas dentro da comunidade internacional também atuam como pressão para esses Estados. Como ele demonstrou, os Estados são racionais e justamente por estarem sempre em busca de seus interesses, a cooperação é o melhor caminho e o mais seguido, baseando-se numa relação em que ambos os lados ganhem. Uma Guerra Nuclear geraria uma desestabilização completamente o sistema e, considerando que os Estados buscam seu desenvolvimento, um cenário nuclear acabaria por desorganizar completamente os interesses, deixando de ser uma relação ganha-ganha (HELLMAN, 2011?).
A pandemia do novo coronavírus desacelerou profundamente a economia, aumentou os problemas de fome em várias regiões do mundo, entre outros graves problemas, e o cenário que se forma no futuro não é tão esperançoso quanto se deseja. Keohane lembra que todos os Estados buscam benefícios em suas relações, portanto, uma guerra nuclear apenas traria mais problemas para um mundo que já está instável. No momento atual, as instituições se fortaleceram para focar na máxima redução possível desses problemas e os Estados estão buscando a cooperação acima de tudo, para garantir ajuda com vacinas, com o meio ambiente, com a fome, com a economia e etc.
A história já mostrou o estrago que o uso de armas nucleares causam às vidas das pessoas, à economia e ao ambiente, com a queda das bombas atômicas, em Hiroshima e Nagasaki, e com o acidente, em Chernobyl. Até hoje, as sequelas daqueles acontecimentos continuam a causar certo efeito e, pensando em como as pesquisas se desenvolveram, os efeitos que uma guerra nuclear causaria hoje, seria ainda mais desastroso, principalmente considerando o cenário atual. Portanto, considerar que a guerra nuclear é inevitável, é desconsiderar os grandes riscos que essa atitude acarretaria e desconsiderar a racionalidade do Estado.
REFERÊNCIAS:
ADRIANO, L. T.; RAMOS, L. C. S. Keohane e o institucionalismo liberal: conflitos ontológicos na construção teórica das Relações Internacionais. Revista Científica do Departamento de Ciências Jurídicas, Políticas e Gerenciais do UNI-BH, 2012.
CHARLEAUX, J. P. Qual o risco de uma guerra nuclear hoje? Nexo Jornal, 2017. Disponível em: < https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/07/04/Qual-o-risco-de-uma-guerra-nuclear-hoje-Este-especialista-responde >. Acessado em 14 de julho de 2020.
HELLMAN, Martin. Nuclear War: Inevitable or Preventable? Stanford EE, 2010? Disponível em: < https://ee.stanford.edu/~hellman/Breakthrough/book/chapters/hellman.html >. Acessado em 14 de julho de 2020.
____________. How likely is a failure of nuclear deterrence? Defusing the Nuclear Risk, 2011? Disponível em: < http://nuclearrisk.org/3likely.php >. Acessado em 16 de julho de 2020.
SARFATI, G. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005.