Thaiana Luzia – Acadêmica do 3° Semestre de Relações Internacionais da UNAMA
A Líbia é constituída de aproximadamente 140 tribos que não entendem direito a fragmentação territorial artificial, que é resultado da política colonialista europeia; são nômades e transitam pelos territórios vizinhos do Egito, Tunísia e Chade. Dessa forma, temos pelo menos três regiões distintas que se desenvolveram de forma independente. Em que o conflito no país, que tem a sétima reserva petrolífera do mundo, é alimentado por potências estrangeiras, nove anos depois da queda de Kadafi que foi um dos maiores ditadores desse território.
A estrutura militar da Líbia não tem raízes nacionais como a dos outros países em rebelião popular. Suas forças são organizadas da forma regimental miliciana, cada tribo tem uma parcela de poder e cuida de sua região; sua organização ocorre com a ausência de Estado- Maior, é por isso que a maior patente é a de coronel, típica dos sistemas regimentais.
O que está ocorrendo neste momento na Líbia não é uma rebelião popular para efeitos políticos e sociais específicos, e sim, uma guerra interna entre grupos independentes que lutam para dominar os poços de petróleo e território de Trípoli, assim, dominar o poder e enriquecer sua tribo. Então, o conflito na Líbia no primeiro momento se caracteriza por ser uma guerra civil que a partir da intervenção da coalizão da OTAN em 2011 se transformou em uma guerra internacional pelo controle dos territórios e dos poços de petróleo. Em seu cerne, o conflito gira em torno de diferenças entre campos islâmicos e nacionalistas; rivalidades étnicas e tribais; identidades regionais e locais; e acesso a petróleo e recursos financeiros.
A Líbia mergulhou no caos após uma revolução apoiada pela Otan em 2011, que resultou na morte do ditador de longa data Muammar Kadafi. Desde então, o país está dividido entre governos rivais no leste e no oeste e uma série de grupos armados que disputam poder e petróleo.
Nesse contexto, a OTAN liderada por França e Itália (os dois países com os maiores interesses econômicos na Líbia) realizaram uma coalizão para intervir no país africano, com a justificativa de defender os direitos humanos dos líbios e derrubar o ditador, antigo parceiro em acordos comerciais. Mas as consequências disso não foram tão resignadas quanto foram com relação às ações americanas no Iraque e no Afeganistão, pois a Alemanha, a Rússia, a China, a Índia e o Brasil se mostraram insatisfeitos e não apoiaram as intervenções.
Preocupados com o papel da organização islâmica radical Irmandade Muçulmana em Trípoli, o Egito e os Emirados Árabes Unidos apoiam o governo no leste e deram apoio militar ao Exército Nacional Líbio. A Rússia também apoia Haftar. Já a União Europeia, os Estados Unidos e a Turquia declararam apoio ao governo baseado em Trípoli, no oeste.
De acordo com informações da agência Reuters, o Papa Francisco fez um apelo a ambos os lados em conflito na guerra civil da Líbia para buscar a paz, além de solicitar à comunidade internacional que auxilie no diálogo e proteja os refugiados e imigrantes, classificados como “vítimas da crueldade”. Em aparente referência à pandemia de coronavírus, o papa afirmou que as condições já graves de saúde entre refugiados, imigrantes e requerentes de asilo foram agravadas, tornando-os ainda mais vulneráveis à exploração e violência.
Por mais de cinco anos, a Líbia possui dois governos e parlamentos rivais em seu território, as ruas são frequentemente patrulhadas por milícias armadas e há combate de tempos em tempos. Atualmente, dois grupos principais disputam o controle da Líbia: o Governo do Acordo Nacional, reconhecido pela ONU, e o Exército Nacional Líbio comandado pelo marechal Khalifa Haftar, que foi coronel no regime de Kadafi e rompeu com o ditador nos anos 1980. Os conflitos não param e a sociedade é a mais afetada com números exacerbantes de mortos.
Quer saber mais sobre a Guerra Civil da Líbia acesse: https://www.youtube.com/watch?v=JSUi9tJjD0o .
Referenciais:
BBC News. Por que a Líbia volta a ser tomada pela guerra civil. 2019 (Internet) em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47870201
- Da revolução à guerra civil na Líbia. 2019 em: https://www.dw.com/pt-br/da-revolu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-guerra-civil-na-l%C3%ADbia/a-48221423
Matéria da Der Spiegel sobre o EI na Líbia: http://goo.gl/1XYDIk