Maria Bethânia Galvão – Acadêmica do 1° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

A Guerra do Paraguai aconteceu na segunda metade do século XIX, durante o governo de Dom Pedro II. Tanto a Argentina quanto o Brasil possuíam monopólio e escoavam seus produtos pelo Rio da Prata, que fica localizado no Uruguai. O Paraguai, por sua vez, buscou maneiras de fortalecer seu comércio, o único meio para fazê-lo era também utilizar o Rio da Prata. Para isso, o Paraguai possuía apoio do governo do Uruguai.

Diante disso, o Brasil não queria perder o monopólio da Bacia do Prata, por isso, em 1864, invade o Uruguai, com apoio da Argentina. Por conseguinte, o presidente do Paraguai, Solano López, ao perceber que seus interesses estavam ameaçados, declara guerra ao Brasil e Argentina.

Nessa sequência, em 1865, Brasil, Argentina e Uruguai se unem e organizam a Tríplice Aliança para enfrentar o Paraguai, no entanto, o exército paraguaio era mais numeroso que o exército da aliança, então o Brasil inicia uma campanha de recrutamento militar, que expôs a situação da escravidão, pois o maior contingente de alistados eram de negros escravos. O Brasil prometeu assinar a carta de alforria aos escravos que participassem da guerra, mas isso criou um paradoxo: o Império garantia liberdade da situação de escravidão, mas negava o reconhecimento da cidadania.

É válido ressaltar a atuação feminina na guerra. No geral, as mulheres participaram da ala medicinal, oferecendo cuidados aos soldados, elas viviam em situação de fome, carência de insumos hospitalares e discriminação. A grande pioneira foi Anna Nery, que se voluntariou à guerra. Nessa época não existia a profissão de enfermagem, apenas o “auxiliar de médico”, ela foi reconhecida como a primeira mulher a operar a área de enfermaria, isso foi uma enorme conquista, uma vez que rompeu com os preconceitos que questionavam a capacidade feminina de executar ofícios. Nery ganhou vários prêmios que reconheceram sua contribuição, portanto, ela merece ser mencionada de forma heroica como uma das mais ilustres mulheres da História do Brasil e da Enfermagem.

Das diversas batalhas que ocorreram na Guerra do Paraguai, evidencia-se a Batalha de Acosta Ñu, em 1869, que firmou a vitória do Brasil e o assassinato de Solano López. A problemática consiste na cruel gestão dos comandantes militares de incluir 4 mil crianças de seis a oitos anos no exército paraguaio, elas representavam mais da metade dos militares. É fato que as crianças não sabiam usar armas, a defesa se dava por meio de paus e pedras. À vista de vencer o Paraguai, o Conde D’eu, comandante do exército brasileiro, mandou incendiar os cadáveres das crianças jogados nas ruas junto às mães sobreviventes, algumas grávidas.

Ainda que o Brasil tenha vencido a Guerra do Paraguai, suas consequências para envolvidos foram profundas, desde criar desconfianças históricas mútuas entre os países até abalos humanos. Outrossim, a guerra contribuiu para a queda do segundo reinado, por conta da condição do exército brasileiro, pois esse não possuía condições para grandes batalhas; ademais os militares não foram recompensados pela sua atuação na guerra, o que influenciou a perda do apoio do setor militar para com D. Pedro II. Somado a isso a participação dos escravos na guerra acirrou a exigência da sociedade civil pela abolição da escravidão, algo que o governo havia se compromissado, mas não cumpriu. Logo, a memória histórica do Brasil necessita desenvolver o revisionismo da Guerra do Paraguai, de modo a reconhecer seu impacto na sociedade brasileira e paraguaia.

REFERÊNCIAS

DORATIOTO, Francisco. O Brasil no Rio da Prata. Em Poucas Palavras: Brasília, 2014.

BOLOGNES, Luiz. GUERRAS DO BRASIL.DOC. Netflix: episódio 3, temporada 1. 2019. (sugestão)

Geller, Odair. Memória e História: o revisionismo historiográfico e o ressentimento no Paraguai. 2016.

DE TORAL AMARAL, André. A participação dos negros escravos na guerra do Paraguai. Scielo: Estudos avançados. vol.9 no.24 São Paulo: 1995

V. N. CARDOSO, Maria M.; L. Miranda, Cristina M. Anna Justina Ferreina Nery: um marco na história da enfermagem brasileira. R. Bras. Enferm: Brasília, V 52, n 3, p. 339-348, Jullset 1999.

L. PALHANO, Hadylse M.; O. DE SOUZA, Rosilene A.; MARIN, Jérri R. A atuação das mulheres na guerra do Paraguai: entre mitos e histórias, muitas personagens importantes. Decreto Imperial 3.371. Ver FLORES, p. 33