Ana Carolina Nascimento – Internacionalista formada pela Universidade da Amazônia

O relacionamento entre a República Popular da China e a Região Administrativa Especial de Hong Kong tem passado por diversos conflitos nos últimos anos. Estas hostilidades remetem-se ao período em que Hong Kong foi governado pela Grã-Bretanha e posteriormente devolvido à China. A devolução foi condicionada à algumas regras, que de acordo com diversos manifestantes da região, o país e o Partido Comunista Chinês não têm cumprido.

Contexto Histórico

A Guerra do Ópio, ou Guerra Anglo-Chinesa, ainda no século XIX, culminou com a derrota chinesa para os ingleses, resultando na concessão da ilha de Hong Kong para a Grã-Bretanha pelos líderes da Dinastia Qin no ano de 1842.

A ilha foi então devolvida no ano de 1997 por meio de um acordo realizado entre os dois países, com o compromisso adotado pela China em governar Hong Kong sob o princípio “um país, dois sistemas”. Este princípio obrigava a China a conservar o sistema democrático e os costumes da ex-colônia por 50 anos. Portanto, a ilha de Hong Kong seria autônoma (exceto em questões internacionais e de segurança) até 2047.

Uma das principais condições do acordo assegura que a eleição do chefe executivo deve ser por meio do sufrágio universal, conforme diz o documento constitucional de Hong Kong.

Revolução do Guarda-Chuva

As manifestações tiveram sua maior repercussão em 2014, quando foi decidido pelo Comitê Legislativo Chinês que a população de Hong Kong poderia eleger um candidato entre os previamente selecionados pelo comitê. “Ou seja, esta medida garante a China a autonomia de desqualificar qualquer candidato que esta desaprova. Com isso, diversos manifestantes foram às ruas protestar contra a decisão e exigir candidaturas abertas”. (BBC, 2014)

 “Os protestos começaram com uma greve de estudantes em protesto contra restrições eleitorais. A manifestação cresceu dramaticamente em resposta a uma tentativa de repressão policial, depois de cerca de 150 manifestantes atravessarem linhas de polícia e invadiram a sede da cidade. Os protestos aumentaram novamente quando a polícia usou gás lacrimogêneo e spray de pimenta para tentar dispersar as multidões” (The Guardian, 2014).

A resposta do governo chinês foi de exigir o fim imediato das manifestações, considerando-as como ilegais.

Disputa Econômica

A região administrativa de Hong Kong também possui uma grande participação no comércio internacional, tendo no ano de 2018 sua balança comercial no valor de US$ 127 bilhões. Boa parte deste valor é direcionado à Ásia e à China, no entanto, podemos perceber uma considerável parcela de participação de países ocidentais no comércio de Hong Kong, como, por exemplo, os Estados Unidos.

O teórico das Relações Internacionais Robert Gilpin, esclarece que o poder econômico é um importante mecanismo para se exercer influência no Sistema Internacional. As relações com Hong Kong não só permitem ao país norte-americano um parceiro comercial, mas também uma certa influência na região asiática, onde está localizada a segunda maior superpotência mundial, a China. 

Gilpin discute acerca do conceito de “hegemonia” que, segundo o autor “Hegemonia, originada do Grego, refere-se à liderança exercida por um Estado (o hegemon) sob outros Estados no Sistema”. (GILPIN, 1981, p. 116). O poder hegemônico é exercido por meio de mecanismos que permitam ao hegemon obter o poder e influência perante o Sistema Internacional. Para Gilpin (1981), o poderio econômico é considerado como um dos fatores que permite ao Estado-Nação a posição de hegemon.

Nas palavras de Daniel Jatobá podemos perceber a necessidade intrínseca dos Estados em conquistar poder e influência por meio da economia mundial “os Estados modernos têm três objetivos principais: conquistar novos territórios, aumentar sua influência sobre o comportamento de outros Estados e controlar (ou pelo menos exercer influência sobre) a economia mundial”. (JATOBÁ, 2013, p. 31) 

China e Hong Kong na atualidade

Com a pandemia do novo coronavírus, os protestos em Hong Kong diminuíram, mas não acabaram. Os manifestantes que ainda vão às ruas em atos pró-democracia estão sendo silenciados pela polícia e governo. Neste cenário, onde o mundo todo encontra-se instável, a China tem tentado afastar-se de repercussões envolvendo a gestão de suas regiões administrativas, Hong Kong, Macau e também a ilha de Taiwan, principalmente após a acusação da Casa Branca sobre Pequim encobrir a origem da pandemia, permitindo que o vírus se espalhasse pelo mundo. E em meio a crises políticas e sanitárias, o país visa aumentar sua influência não somente em seu território mas no Sistema Internacional.

REFERÊNCIAS

GILPIN. Robert. War and Change in International Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1981. 

JATOBÁ, Daniel. Teoria das Relações Internacionais. Temas Essenciais em Relações Internacionais, 1ª edição- Vol. 2, 2013.

BBC. Hong Kong’s democracy debate. Disponível em: < http://www.bbc.com/news/world-asia-china-27921954 >. Acesso em: 07 de junho de 2020.

ALBERT, Eleanor. Democracy in Hong Kong. Disponível em: < https://www.cfr.org/backgrounder/democracy-hong-kong >. Acesso em: 07 de junho de 2020.

Lei Básica de Hong Kong. Disponível em:  < http://www.basiclaw.gov.hk/en/basiclawtext/chapter_4.html >. Acesso em: 07 de junho de 2020.

MCCARTHY, Tom. Under the umbrellas: what do Hong Kong’s protesters want from China? Disponível em: < https://www.theguardian.com/world/2014/sep/29/hong-kong-democracy-protests-china-umbrellas-police >. Acesso em: 07 de junho de 2020.