Felipe Soares – Acadêmico do 7° semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Desde os anos 1980, a noção de que “a realidade é socialmente construída” tornou-se muito repetida entre as novas abordagens teóricas das RI, e não apenas pelos defensores do construtivismo social. Dizer que a realidade é socialmente construída provoca reconhecer que aquilo que consideramos realidade resulta das escolhas feitas por agentes humanos, mesmo quando elas não ocorrem sob circunstância livremente escolhidas por nós.
Assim como o nome indica, o foco do construtivismo está na construção social da política internacional. Pela definição de Emmanuel Adler, o construtivismo é a perspectiva segundo a qual o modo pelo qual o mundo material se relaciona com a ação humana, formando-a e sendo por ela formado, depende de interpretações dinâmicas do mundo material.
Assim sendo, afirmar que a realidade internacional é construída socialmente de forma alguma implica reconhecer somente um mundo de paz e cooperação; ao contrário, significa reconhecer que tanto as dinâmicas de cooperação como as de conflito, tanto a guerra como a paz, tudo isso resulta do modo como os agentes estruturam suas relações sociais e, não menos importante, como as estruturas intersubjetivas constroem os próprios agentes. Mas se a realidade é uma construção social ao longo da história, então também existe a possibilidade de modificá-la.
Cada vez mais plural, a família pode ser monoparental, homoafetiva, unipessoal, mosaico, além da família formada pela união estável e pelo casamento. O ponto comum entre todas elas é o amor. Na esfera do direito civil a formação da família e dos elos de filiação, em suas várias formas previstas na pós-modernidade, são fruto de intensa agitação social e cultural, que representam uma forma de prestigiar o amor em todas as suas formas.
Todo ano, durante o mês de junho, a comunidade LGBTI celebra o #Orgulho de várias maneiras diferentes. Mês escolhido, pois, marca a rebelião de Stonewall em 1969, que deu início ao dia do orgulho LGBTI. Cinco dias antes do dia 1 de junho de 2020, duas mulheres se casaram na manhã de terça-feira dia 26 de maio na Costa Rica, que se tornou o primeiro país da América Central a aceitar o casamento igualitário, embora a data não tenha as comemorações esperadas, devido à pandemia de Covid – 19. Vestidas de branco, as duas se casaram na localidade de San Isidro de Heredia, 14 quilômetros a noroeste de San José, diante de uma juíza protegida com máscara, como parte das medidas para evitar a covid-19, e numa cerimônia transmitida ao vivo pela TV.
A Costa Rica é o oitavo país das Américas a aceitar o casamento igualitário, o primeiro da América Central e o 29° do mundo. A transmissão, organizada pela campanha “Sim, Aceito Costa Rica”, muitas personalidades internacionais apresentaram seus cumprimentos, como a cantora espanhola Mónica Naranjo, que anunciou que a mudança legal “fará que outros países do continente sigam o mesmo caminho”. Nesse sentido, o respeito à manifestação das diversas formas de amor e afetividade é importante para a formação integral do ser humano que, por sua vez, irá integrar uma família, em suas diversas modalidades, a qual representa o esteio de toda a sociedade, no sentido de que forma cidadãos, fornece-lhes educação e substrato, bases fundamentais para o progresso e construção da nação.
O marco do movimento ocorrido em Stonewall quanto do casamento recente no país, deve ser mais celebrado do que nunca, visto que a sociedade é socialmente construída com apenas uma forma de relacionamento aceita perante as grandes instituições, ocasionando a discriminação em massa assim como a criminalização em diversos países que ainda são cobertos pela ignorância. Numa época em que os direitos conquistados a tanto suor e sangue estão cada vez ameaçados, é preciso lembrar ao mundo que inclusão é o único caminho para um futuro melhor.
Os atores estão imersos numa estrutura social que os constitui e que, por sua vez, é constituída, também, por esses atores no processo de interação. Dessa forma, os construtivistas não rejeitam a importância dos aspectos materiais do mundo, mas as relações entre as ações humanas e o mundo material dependem do modo como os agentes lidam com as diversas estruturas intersubjetivas de significado, como a cultura, as identidades, as normas e regras do discurso, e assim por diante.
REFERÊNCIAS:
ADLER, Emmanuel. O construtivismo no estudo das relações internacionais. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64451999000200011&lng=pt&tlng=pt
Mês do orgulho LGBTQI+: Uma seleção de matérias para celebrar. Disponível em:
https://vogue.globo.com/atualidades/noticia/2020/06/mes-do-orgulho-lgbtqia-uma-selecao-de-materias-para-celebrar.html . Acesso em 08 jun. 2020
A perspectiva construtivista das Relações Internacionais: Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/5513/5513_3.PDF
Costa Rica é o primeiro país da América Central a legalizar casamento gay. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/costa-rica-%C3%A9-primeiro-pa%C3%ADs-da-am%C3%A9rica-central-a-legalizar-casamento-gay/a-53570677 . Acesso em: 08 de jun. 2020