Matheus Castanho – Acadêmico do 3° Semestre de Relações Internacionais da UNAMA
A península da Crimeia é uma das regiões mais instáveis de todo o leste Europeu, fato não muito surpreendente levando em conta a história da região, tanto nos diversos povos nômades como os Casares ou Hunos que habitaram a região ou nos diversos impérios que tentaram tomá-la para si. Nos dias atuais ela ainda é fonte de conflito, fazendo com que ela pareça um grande círculo de conflitos repetitivos.
Durante a guerra civil russa entre 1917-1921 a península foi reivindicada pelo Estado Livre da Ucrânia, que buscava se separar do domínio russo. Porém, foram derrotados pelo exército vermelho e a Ucrânia foi anexada como uma das repúblicas socialistas da URSS. O ditador Joseph Stalin acabaria por expulsar muitos dos habitantes tártaros muçulmanos da região por suspeita de colaborar com o regime Nazista, o que acabaria gerando um amplo processo de russificação na Crimeia. A Ucrânia se tornaria independente em 1991 com a dissolução da União Soviética.
As novas faíscas de conflito viriam a surgir em 2014 quando a revolução Ucraniana forçou a deposição do presidente Victor Yanukoyvch, cujas políticas de aproximação com a Rússia e abuso de poder eram altamente impopulares. A Rússia considerou sua deposição como um golpe de Estado. Durante este processo, separatistas armados tomam controle do parlamento da Crimeia e da importante cidade de Sebastopol, declarando uma república independente com promessas de referendo sobre uma possível união com a Rússia. O referendo teve cerca de 95% de aprovação, apesar de suspeita de fraude, com uma parcela da população recusando-se a votar. O presidente Russo Vladimir Putin prometeu o uso de suas forças armadas na região.
O referendo foi condenado pela Ucrânia, pelos EUA e pela União Europeia. Mais de 100 países apoiaram uma resolução da Organização das Nações Unidas declarando-o inconstitucional e o fórum G8 anunciou a expulsão da Rússia do fórum, voltando a se tornar o G7.
Um conflito armado eclodiu no extremo leste da Ucrânia entre separatistas apoiados pelo governo russo e forças nacionais ucranianas, estas últimas também apoiadas por milícias financiadas por oligarcas, muitas delas seguindo ideologias de extrema direita. Após um ano de combate pesado, um cessar fogo determina uma zona de segurança entre os dois lados.
Pelo período de 6 anos desde o começo das hostilidades a Rússia foi alvo de uma grande quantidade de embargos e sanções econômicas, o que gerou um rápido declínio de sua situação econômica. O cessar fogo nada fez para parar a violência da Ucrânia oriental, que atualmente é uma das zonas mais militarizadas do planeta, com bombardeios e escaramuças entre grupos armados ocorrendo diariamente, além de 100 mil civis em situação de vulnerabilidade segundo ONGs de direitos humanos. No geral, o conflito na Ucrânia mostra-se como mais um movimento no tabuleiro geopolítico da Europa oriental pós guerra fria.
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Referências :
FEDOR, Julie. JOURNAL OF POST-SOVIET POLITICS AND SOCIETY, Vol 5. No 1. (2019). University of Melbourne.
MONTEFIORE, Simon. OS ROMANOV (2016). Vintage Books.