Maria Eduarda Diniz – acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Com um visual brilhante e uma trama histórica envolvente, Mr Sunshine é uma série coreana extremamente bela. A trama foca em Eugene Choi, um homem que nasceu como escravo em Joseon (nome da Coreia antes da invasão japonesa e da divisão em duas), e fugiu para os Estados Unidos quando menino, em 1871. Anos depois, ele acaba voltando a sua terra natal, como um representante estadunidense, num momento crítico para o país. Lá, ele conhece Ae Sin, alguém muito diferente dele, que ama seu país e está disposta a matar para defendê-lo. Ela precisa decidir se Eugene é um amigo ou inimigo, enquanto o próprio Eugene começa a se questionar sobre quem é: coreano ou estadunidense, combatente ou um mero observador.
Mr Sunshine conta o fim de uma longa era para os coreanos, a era de Joseon. Por séculos, a dinastia e o nome Joseon eram a estabilidade de seus cidadãos, mas tudo mudou no final do século XIX e início do século XX, quando a presença japonesa, entrando na Era Meiji do Japão, começou a se tornar uma ameaça cada vez maior. Poucos sabem que houve um imperialismo na Ásia, em alguns tempos promovido pela China, e que as marcas mais profundas desse imperialismo foram causadas pelo império japonês. Até hoje, o povo coreano tem mágoa dos tempos de dominação e a série demonstra bem o porquê.
Apesar do foco ser em Eugene e Ae Sin, e na relação deles, todos os personagens apresentados, mesmo os coadjuvantes, fazem aparições brilhantes. A história dos protagonistas se envolve, principalmente, com a história do Exército dos Justos, um grupo de rebeldes que lutava contra a invasão japonesa, o qual teve a maioria de seus membros mortos brutalmente. Todos os personagens envolvidos carregam histórias de dor, com vinganças pessoais e sonhos diversos, mas decididos a lutar juntos contra o inimigo comum, e libertar sua terra.
Até mesmo personagens que parecem cômicos à primeira vista, desenvolvem cenas de luta pessoal e real muito particulares. A luta pela identidade é, na verdade, algo que permeia todos os episódios, em todos os personagens. Todos tinham que decidir quem era e quem queriam ser, se submetiam-se a ocupação ou se lutavam, mesmo em momentos em que a morte é certa. Choi, principalmente, está em constante desafio pessoal. Ele, que nasceu escravo e viu seus pais serem mortos injustamente, carrega uma grande mágoa de seu país natal, sempre se apresentando como estadunidense, tentando convencer mais a si do que aos outros. Mesmo Ae Sin, que é a personagem mais bem decidida da história, carrega lutas internas. Ela deseja lutar, mas foi criada para ficar em casa, quieta, como uma “boa garota de Joseon”. O seu crescimento é um dos mais notáveis.
Além de Eugene e Ae, o lutador e o jornalista são peças chaves da trama. Enquanto acompanhamos as tramas na vida dos quatro, também percebemos os traços de Joseon sendo perdidos, com os japoneses impondo tudo de si sobre eles, não deixando quase nada para trás para ser lembrado. Em cada coadjuvante, também, vemos as mudanças, vemos o luto por um passado cada vez mais distante.
A produção se esforçou muito para deixar tudo o mais fiel possível, por isso muitas figuras reais históricas aparecem com uma identificação e breve explicação sobre quem foram. A fotografia utilizada também, buscou ser o mais verossímil possível, por exemplo, na foto do Exército dos Justos, que foi tirada com as exatas posições e proporções da foto original, tirada durante a ocupação. Mesmo a trilha sonora foi escolhida meticulosamente para cada cena, para que todas as emoções esperadas possam ser sentidas da forma correta.
O romance da série é, em primeiro lugar, entre Choi e Sin, mas em segundo, e muito mais evidente, é um amor entre a terra natal e seus cidadãos. O que se espera de um romance comum coreano não será visto tão fortemente neste drama. Cada vez que conhecemos os personagens, somos levados a querer saber mais sobre o que será deles, porque a história real é sangrenta. Será que viverão? Será que ficarão juntos?
Uma mensagem que a trama passa, na verdade, é de que, no final, todos ficarão juntos, de alguma forma, porque estão conectados por suas escolhas, pelo destino e por seu amor em comum.