aaaa

Verena Moura acadêmica do 7º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

Desde a sua criação pelos irmãos Lumière na França, em 1895, o cinema se popularizou pelo mundo todo. O seu processo de construção passou por diversas transformações. A princípio utilizado apenas para fins documentais ou para registro dos movimentos que estivessem ocorrendo diante das lentes, o chamado “teatro filmado”, foi somente com a contribuição de pioneiros como Alice Guy-Blaché e Georges Méliès que tivemos o início do chamado “cinema narrativo”, onde através das câmeras seriam contadas estórias (BEZERRA, 2019).

Segundo o teórico Mearsheimer (2001), o poder tem tudo a ver com o controle ou a influência sobre outros países, é a capacidade de um Estado de forçar outro a fazer algo. Neste mesmo sentido, Joseph Nye distingue a natureza do poder em dois campos: o soft power (ou poder brando) e o hard power (ou poder duro). Para Nye (2004), as relações de soft power encontram sua essência na habilidade de moldar as preferências de outros atores. Segundo o autor:

Soft power não é um mero sinônimo para influência. Afinal de contas, influência também pode ser exercida através de hard power, via ameaças ou pagamentos. Soft power é mais do que simples persuasão ou habilidade de convencer pessoas através de argumentos, embora esta seja parte importante dele. É também a capacidade de atrair, e atração frequentemente conduz à aquiescência. Simplificando, em termos comportamentais soft power é poder de atração. Em termos de recursos, são considerados recursos de soft power os ativos capazes de produzir tal atração. (Nye, p. 6)

A “sétima arte” como é conhecida, em sua maioria utilizada como ferramenta de entretenimento, moldou-se de diversas maneiras ao longo dos anos. As produções cinematográficas ganharam grande reconhecimento e conquistaram públicos fiéis. Por meio do cinema é possível explorar novos mundos, novas culturas, e aproximar-se de diversas outras sociedades. Além disso, este pode ser utilizado como fonte de informação ou como base para análise da construção de narrativas de uma determinada sociedade, discursos, eventos históricos, além da propagação de ideologias.

Um dos maiores exemplos do cinema como instrumento de propagação de ideologias ocorreu durante a Guerra Fria. Utilizado como ferramenta política tanto pelos EUA quanto pela URSS, por meio do cinema eram transmitidos os valores e visões dessas duas potências para o mundo, de um lado combatia-se o “fantasma comunista” e do outro “o capitalismo opressor”. As produções cinematográficas da época construíam e difundiam a imagem desses Estados da maneira que os seus líderes desejavam, firmando uma luta pelo poder através da indústria cultural pelo o que conhecemos como soft power.

Importante pontuar que não somente na Guerra Fria, mas também nos  dias atuais, os Estados Unidos ganham destaque no uso do cinema aliado ao soft power, durante todo o processo de construção e manutenção da sua hegemonia. Através da sua indústria cultural é vendido o “American Way of Life”, o qual aqueles que assistem sonham e desejam o estilo de vida americano. Através de Hollywood, por exemplo, são criados discursos onde os norte-americanos são colocados como as vítimas ou os heróis das narrativas, um exemplo bastante atual é o Capitão América. A maioria das produções hollywoodianas exemplifica o que Michel Foucault aborda como construções de verdades, mostrando apenas uma versão da história (dos estadunidenses) de modo a influenciar a visão dos espectadores (COSTA, 2015). 

O cinema surge como uma importante ferramenta no sistema internacional, dada a sua funcionalidade e o seu alcance. É possível, ao mesmo passo que se tem entretenimento, adquirir conhecimento, analisando narrativas e discursos, o importante é sempre buscar os dois lados de uma história para não ficar preso a falsos discursos ou histórias incompletas. No mais, a sétima arte e toda cultura deve ser aproveitada, valorizada e difundida.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, Juliana. História do Cinema. Toda Matéria, 12, novembro, 2019. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/historia-do-cinema/. Acesso em: 22 de março de 2020. 

COSTA, Renatho. O efeito Hollywood nas relações internacionais. Núcleo de Estudos e Análises Internacionais (NEAI), 13, outubro, 2015. Disponível em: https://neai-unesp.org/o-efeito-hollywood-nas-relacoes-internacionais/. Acesso em: 22 de março de 2020.

MEARSHEIMER, John J. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Lisboa: Gradiva, 2001.

NYE, Joseph S. Soft Power: The Means to Success in World Politics. New York: Public Affairs, 2004.