Vivian Seixas Maia – Acadêmica do 3º semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Um dos ramos das teorias das Relações Internacionais é o Neorrealismo, de acordo com Mearsheimer, tem um total de cinco premissas principais, explicadas em sua palestra de 2013 para a Universidade de Chicago. O primeiro é a anarquia do Sistema Internacional, que significa a falta de um princípio organizador dominante (o “problema do 911”, como dito por Mearsheimer) e causa a inexorabilidade da guerra. Há também a premissa de que todos os Estados no Sistema Internacional têm pelo menos alguma capacidade militar e bélica, gerando assim a terceira premissa que é a incerteza da intenção dos Estados nesse sistema, sendo elas presentes ou futuras.
A quarta premissa é que a sobrevivência se mostra o principal objetivo de todos os Estados, mas não é a única. E por fim, os Estados são considerados atores racionais, ou seja, pensadores estratégicos a fim de ter ganhos relativos em suas interações com outras nações. Todas essas premissas se juntam e acabam por formar um Sistema Internacional recheado de desconfiança e medo entre os Estados. Em concordância com o autor, Waltz explicita em sua teoria a máxima da manutenção da soberania e a inevitável anarquia do Sistema Internacional.
A ocorrência histórica a ser descrita e analisada a seguir é o Genocídio em Ruanda, que teve início em 6 de abril de 1994 e durou um total de 100 dias. O genocídio, que foi precedido pela guerra civil, foi organizado pela elite hutu e afetou principalmente a maioria populacional tutsi, que foram identificados e executados por meio da milícia hutu. A perseguição dos tutsis foi estrutural na sociedade ruandesa, foi extremamente violenta e deixou marcas duradouras na sociedade do país. O genocídio acabou somente por conta da Frente Patriótica Ruandesa, que derrotou o governo hutu e se instalou no poder. (NOGUEIRA, 2011)
Ao analisar-se o genocídio de 1994 sob a perspectiva neorrealista, é possível perceber a fraqueza das instituições internacionais no conflito, visto que estas são apenas reflexos do sistema de poder atual do Sistema Internacional e por isso não conseguem ter resultados concretos ao atuar em conflitos ou negociações (MEARSHEIMER, 1995). O papel da ONU em Ruanda se mostra um grande exemplo da ineficácia das instituições em casos de segurança internacional. A atuação do Conselho de Segurança foi com extremo desinteresse, situação explicitada pelo voto em abril de 1994 para reduzir o tamanho da Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda de 2500 para 270. Esse tipo de ação se mostrou contraprodutiva, pois reflete os interesses das Grandes Potências em detrimento da resolução de conflitos. (HOWARD, 2008)
O estudo do papel das Grandes Potências é crucial para entender como a teoria neorrealista pode ser aplicada neste conflito. Os Estados Unidos, indiscutivelmente a principal potência hegemônica, acabou por seguir a premissa da busca por sobrevivência dentro de um sistema de self-help explicitada por Mearsheimer visto que decidiu tomar atitudes de espectador no conflito (COHEN, 2006).
A participação da França também pode ser observada sob a luz da teoria, pois essa se deu por meio de extensivo apoio bélico para o conflito em Ruanda. Essa ajuda militar acaba por cair na premissa de Mearsheimer de que, além da sobrevivência, todos os Estados buscam aumentar sua esfera de poder e influência no Sistema Internacional, e por isso a França se mostrou presente dando “apoio militar legal”.
A ligação que o governo francês faz de segurança com desenvolvimento se mostra presente, pois o principal motivo da ajuda bélica e da grande presença militar francesa na África, em Ruanda em especial, era justamente para criar bases que trabalhassem para o governo francês, aumentando assim o seu poder-força no cenário mundial e tendo unidades que agiriam como braços do governo francês em territórios mais distantes. (MCNULTY, 2000)
Em conclusão, essa análise estruturalista da atuação dos países no conflito de Ruanda mostra o triunfo da teoria neorrealista no campo real. O descaso das grandes potências em solucionar o conflito acaba por explicitar como países com pouco poder-força no sistema são invisibilizados e seus conflitos internos são colocados como menos importantes na pauta das instituições internacionais, que são comandadas por Estados com grande poder no cenário internacional.
REFERÊNCIAS
COHEN, Jared. One-hundred Days of Silence: America and the Rwanda Genocide. Editora Rowman & Littlefield Publishers, 2006.
HOWARD, Lise Morje. UN Peacekeeping in Civil Wars. Editora da Universidade de Cambridge, 2007.
JONES, Bruce D. Peacemaking in Rwanda: The Dynamics of Failure. Editora Lynne Rienner, 2001.
MEARSHEIMER, John. The False Promise of International Institutions. The MIT Press, 1995.
MCNULTY, Mel. French arms, war and genocide in Rwanda. Kluwer Academic Publishers, 2000.
PINTO, Teresa Nogueira. Ruanda: Entre a Segurança e a Liberdade. Revista de Relações Internacionais, 2011.
WALTZ, Kenneth. Theory of International Politics. Editora Addison-Wesley, 1979.
BITTENCOURT, Paulo Victor Zaneratto. Kenneth N. Waltz: Uma Análise da Perspectiva de Sua Teoria das Relações Internacionais Através das Obras “Theory Of International Politics” e “Man, The State and War”. 2017.
UCHICAGO SOCIAL SCIENCES. Harper Lecture with John J. Mearsheimer: Can China Rise Peacefully?. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0DMn4PmiDeQ&feature=youtu.be> Acesso em: 04/03/2020.