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Iago Braga – Acadêmico do 3° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Em noticiários sobre tecnologia, o termo “5G” é repetido efusivamente como uma tecnologia revolucionária. A chamada “5° geração de sistema sem fio” promete mudar profundamente a vida dos usuários elevando a velocidade de conexão da atual rede 4G em 50 a 100 vezes, viabilizando um novo cenário tecnológico para a humanidade (IstoÉ). Realidade virtual portátil, cirurgias remotas, carros autônomos, internet das coisas e etc. são alguns dos panoramas possíveis para essa inovação. No entanto, interesses políticos e econômicos do conflito EUA-China parecem estar colidindo com essa realidade.

É com esse horizonte que se remonta a André Gunder Frank (2004). Um dos participantes do “movimento do saber” da teoria do sistema-mundo, o autor alemão utilizou parcialmente a contribuição de Immanuel Wallerstein, idealizador do conceito, e decidiu estudar a história da humanidade como uma totalidade. Baseada na divisão internacional do trabalho, a teoria aborda a desigualdade causada pelo capitalismo e divide o mundo em 3 níveis: centro, periferia e semiperiferia. Esse sistema é passível de “quebra”, onde um hegemon dá lugar a outro. É nesse ponto que Frank discorda. Para ele, na verdade, há somente um “sistema mundo” de longa duração, cujo bojo se estabelece na Ásia oriental, e que o Ocidente se encontra nesse eixo apenas momentaneamente, processo que chamou de ReOrientação (p. 19-29).

Frank prossegue sua obra dando à China, dragão de fogo, o papel de novo hegemon que substituirá EUA, tigre de papel; este, encontra-se apoiado em dois pilares que se auto ajudam na manutenção no poder: o dólar e o poderio estratégico-militar. Esse financia aquele e aquele zela pelos interesses desse.

Para entender esse fenômeno, é necessário desvencilhar-se de orientalismos e pré-conceitos, fugir da história eurocêntrica e recordar que a ascensão da Europa não aconteceria sem as invenções e as redes comerciais orientais. Ou que, até o século XVII, a região fora invejada pelos europeus. A ReOrientação começa a dar as caras.

Prospecções dizem que a partir deste ano (2020) as economias da Ásia superariam a do resto do mundo juntos. Economias menores como Indonésia e Vietnam estão a todo vapor. A China está em vias de erradicar a extrema pobreza. E, além disso, tecnologias revolucionárias e inovadoras se fazem presentes nesse Oriente. Entretanto, ainda se faz firme a resistência do gigante norte-americano.

A guerra comercial entre EUA e China já perdura há algum tempo e não dá sinais de término. Os EUA vêm taxando e bloqueando produtos chineses sob a justificativa de “roubo” e injustiça no déficit da balança comercial, sendo o alvo da vez o 5G chinês (a China não é a única que possui essa tecnologia, mas a que mais avança e tem dado resultado). Iniciou-se, então, as pressões e os lobbies para outros países também recusarem a tecnologia. Todavia, países europeus ainda se encontram céticos quanto à periculosidade do 5G chinês, com estudos oficiais comprovando sua segurança e com grandes empresas como a alemã Deutsche Telekom ansiando pela aplicação da rede chinesa.

Fica claro, conforme dito, que o tigre de papel, o qual vem se desmanchando com suas reservas internacionais em dólar em queda, encontra-se em meio a uma encruzilhada. Para conseguir assegurar-se no xadrez do “sistema mundo”, está se esforçando para que os países semiperiféricos e periféricos continuem utilizando o 4G que a Agência de Segurança Nacional (NSA) usa para espioná-los, segundo o Caso Snowden. Os dois esteios da hegemonia norte-americana estão se enfraquecendo enquanto o dragão de fogo do Oriente segue sua retomada. A mudança do foco da estrutura do sistema do Ocidente para o Oriente pode, na verdade, não estar tão próxima, pois as relações de hegemonia são bem complexas. Ainda assim, o salto evidente dos Estados asiáticos continuará dando pesadelos às lideranças ocidentais.

Referências

Financial Times. The Asian century is set to begin. Disponível em <https://www.ft.com/content/520cb6f6-2958-11e9-a5ab-ff8ef2b976c7>.

FRANK, A. G. Tigre de papel, dragão de fogo. In: DOS SANTOS, T. (Coord.) Os impasses da globalização. São Paulo: Loyola, 2003.

Hipertextual. Europa mantiene el escepticismo ante la crítica posición de EE.UU sobre Huawei. Disponível em <https://hipertextual.com/2019/02/europa-se-muestra-esceptica-ante-critica-posicion-ee-uu-sobre-huawei>.

IstoÉ. A revolução 5G. Disponível em <https://istoe.com.br/a-revolucao-5g/>.

MintPress News. The Real Target of the Huawei Sanctions and the Trade War. Disponível em <https://mintpressnews.es/the-real-target-of-the-huawei-sanctions-and-the-trade-war-with-china/254570/>.

SOUZA, Teotónio R. de. Gunder Frank revisitado: um “sistema mundo” francamente único. Revista Campus Social. V. 1, n. 16, p. 19-29 (2004).