Maria Carolina Regateiro – Acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Moçambique é um país com aproximadamente 30 milhões de habitantes, localizado no sudeste do continente africano. No dia 14 de março de 2019, o país foi atingido pelo ciclone Idai, de categoria 4, que também passou por Zimbábue e Malawi, países vizinhos.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Gestão de Emergências de Moçambique, divulgados no último dia 23, o número de mortos pela passagem do ciclone é de 447 pessoas no país, totalizando mais de 760 fatalidades somadas aos países vizinhos. O número de atingidos pela passagem do Idai já chegam aos 483 mil. Aproximadamente 40 mil casas foram afetadas e 100 mil crianças estão impedidas de irem à escola. Além disso, de acordo com o levantamento da Cruz Vermelha, são pelo menos 200 desaparecidos nas áreas afetadas.
Diante desta catástrofe humanitária, autoridades africanas e instituições não-governamentais clamam por ajuda. “O governo de Moçambique não tem capacidade, nem nenhum governo teria capacidade para responder a um desastre desta dimensão. Só a área inundada é equivalente ao Luxemburgo. É como se, de repente, a Europa tivesse perdido o Luxemburgo e todas as pessoas lá dentro.” disse Pedro Matos, coordenador de emergência do Programa Alimentar Mundial.
Diversas nações do globo ofereceram ajuda humanitária à Moçambique, como Brasil, Canadá, Japão, Alemanha, Bélgica, Reino Unido, entre outros. Ainda assim, organizações não governamentais presentes no local dizem ser insuficiente devido ao tamanho da catástrofe, afirmando que só será possível avaliar sua dimensão após as águas baixarem. O secretário-geral da ONU, António Guterres, cobrou da comunidade internacional mais apoio.
Para as Relações Internacionais, fato internacional pode ser definido como uma “ocorrência de relevância no domínio das Relações Internacionais, podendo esta ser causada, diretamente, pela intervenção humana ou pela ação natural” (CASTRO, 2016. p. 260). O fato internacional também pode ser explicado como o agir ou reagir de qualquer ator internacional no sistema.
Desde o acontecido, críticas surgiram pelo fato de a mídia internacional não ter enfatizado o ocorrido da mesma forma que enfatizaria catástrofes na Europa ou na América do Norte. Não sabemos quem são estas pessoas e o que elas perderam de fato.
Segundo Andrew Linklater (1982), teórico crítico das Relações Internacionais, é necessário que exista um sentimento cosmopolita através de um universalismo moral, para que quando ocorra alguma crise ou violação de direitos humanos em certa parte do globo, o mundo inteiro possa compartilhar desta perda. Para Linklater, um Estado só alcançará a paz quando todos os outros alcançarem também. A idéia principal é estabelecer uma consciência mútua tendo em vista a promoção dos direitos humanos básicos para a manutenção da dignidade dos seres humanos.
A ajuda humanitária que o país vem recebendo continua insuficiente devido à dimensão da tragédia. De certa forma, o mundo ocidental acredita que a África já possui tantas tragédias, que mais uma não significa grande coisa. Isso precisa mudar. Independente de cor de pele, religião, idioma ou país de origem, a luta constante pela dignidade humana deve permanecer viva.
Referências:
CASTRO, Thales. Teoria das Relações Internacionais. Brasília: FUNAG, 2016.
LINKLATER, Andrew. Men and Citizens in the Theory of International Relations. London: Palgrave Macmillan, 1982.
Folha de São Paulo. Moçambique tem 128 mil pessoas em abrigos improvisados e corre risco de epidemias. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/mocambique-tem-128-mil-pessoas-em-abrigos-improvisados-e-risco-de-epidemias.shtml> Acesso em: 25/03/2019
DW Brasil. Número de mortos em Moçambique passa de 400. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-br/n%C3%BAmero-de-mortos-por-ciclone-em-mo%C3%A7ambique-passa-de-400/a-48040455> Acesso em: 25/03/2019