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Giovanna Lima – 3˚ Semestre

Em 2019 o novo governo promete mudanças na política externa brasileira e algumas incertezas ainda continuam sobre os rumos que o Presidente Jair Bolsonaro e o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, darão.

A tradição da política externa brasileira e sua diplomacia é caracterizada pelo pacifismo, idealismo e pragmatismo. Entrentanto, no governo Bolsonaro algumas características realistas vem sendo evidentes. Ideologicamente, os realistas se diferenciam dos demais pela sua convicção de que política externa deve ser baseada na busca pelos interesses nacionais, não na promoção de valores.

A política externa com um viés mais realista de Bolsonaro rejeita ameaças para a soberania, foca na segurança nacional, além de desvincular o Brasil de pactos internacionais. Percebe-se claras influências realistas quando se nota que princípios como busca pelos próprios interesses, a questão da segurança e a cooperação como secundária e instável (SARFATI, 2015) sempre foram defendidos desde 431 A.C por Tucídides.

A partir da teoria realista, podemos analisar diversas medidas tomadas e declarações dadas pelo governo Bolsonaro e traçar um panorama futuro com perspetivas para o novo governo.

Ernesto Araújo foi anunciado como Ministro de Relações Exteriores e surpreendeu a comunidade diplomática, que esperava alguém mais experiente para ocupar este cargo. As posições defendidas pelo Ministro enfrentam muitas críticas de diplomatas que estão apreensivos quanto à credibilidade internacional do Brasil diante das declarações que vão de encontro de diversos valores e princípios que sempre caracterizaram a política externa do país.

Diversas posições pessoais repercutidas pela imprensa e publicadas por ele em seu blog pessoal (www.metapoliticabrasil.com) também têm sido muito criticadas. Entre elas, a ideia de “libertar o Itamaraty do marxismo cultural”, críticas às mudanças climáticas, ao “globalismo”, ideias conspiracionistas, críticas à esquerda, aos movimentos feministas, à imigração, ao regime chinês.

O Ministro Ernesto Araújo apresenta divergências às principais lideranças mundiais como, o presidente francês, Emmanuel Macron e a Chanceler alemã, Angela Merkel, que seguem uma linha exatamente oposta ao do chanceler brasileiro. O governo Bolsonaro se insere num movimento em ascensão no mundo, como na Itália, Polônia e Hungria. O Ministro das Relações Exteriores já expressou admiração ao ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.

Em entrevista ao lado de Bolsonaro no Centro Cultural Banco do Brasil, o presidente eleito afirmou que Araújo irá “incrementar a questão de negócios no mundo sem viés ideológico de um lado ou de outro”. Entretanto, o que se nota é que as perspetivas para a Política Externa envolve um alinhamento mais automático. A aproximação dos Estados Unidos e a preferência por arranjos bilaterais retirando, por exemplo, o Brasil do Pacto sobre Migração da Organização das Nações Unidas são algumas das principais mudanças que divergem de uma tradição histórica brasileira de não alinhamento e a aposta no multilateralismo.

Outro ponto de mudança a se destacar é a valorização das relações Norte-Sul em detrimento das Sul-Sul, quando se observa as declarações do Ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que o Mercosul não será prioridade no governo Bolsonaro. Além das críticas ao governo Chinês que pode representar um enfraquecimento das relações com o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Bolsonaro, ainda durante o processo eleitoral, defendia que o Brasil deveria priorizar acordos bilaterais com os países mais desenvolvidos em detrimento de acordos comerciais com os países da América Latina, da África e Ásia. Prejudicando assim, as relações comercias brasileiras, visto que o Mercosul é o principal mercado de manufaturados brasileiros e a China é o maior parceiro econômico do Brasil.

Apesar da tradição histórica do Brasil de defender na ONU os Estados de Israel e Palestina dentro marcos da fronteira de 1967. O governo Bolsonaro parece estar disposto a quebrar tradições que passam pelos governos militares, Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer e mudar a embaixada do País em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém, prejudicando as relações diplomáticas com os países árabes que são os maiores compradores de carne brasileira.

Assim, existe uma preocupação dos principais parceiros comerciais do Brasil e os grandes blocos econômicos, como a União Europeia e o Mercosul, um possível isolacionismo pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, alinhando-se à mesma política adotado pelo presidente estadunidense, Donald Trump.

Percebe-se que apesar de algumas destas declarações e promessas possam perder a força, elas representam prejuízos ao país, uma ameaça às práticas já consolidadas na política externa brasileira e enfraquecimento de diversos relações diplomáticas há muito tempo estabelecidas pelo país.

Referências:

2019 está logo ali. O que esperar da política externa de Jair Bolsonaro? <https://exame.abril.com.br> Acessado em: 26 Jan .2019

Uma política externa fora da curva <https://www.jornaldocomercio.com> Acessado em: 26 jan. 2019

Diplomatas criticam futuro chanceler do Brasil, Ernesto Araújo <https://www.brasildefato.com.br&gt; Acessado em: 26 Jan. 2019

Paulo Guedes diz que Mercosul não será uma prioridade. Isso é ruim? <https://exame.abril.com.br&gt; Acessado em: 26 jan. 2019

2019 – Um risco para a política externa brasileira <https://universoracionalista.org> Acessado em: 26 jan. 2019

As 5 declarações recentes de Bolsonaro que repercutiram mal no mercado <https://www.infomoney.com.br> Acessado em: 26 jan. 2019

Mercosul é o principal mercado de manufaturados brasileiros <http://www.brasil.gov.br&gt; Acessado em: 26 jan. 2019

Brasil lidera mercado de carne para muçulmanos, entenda por quê

 <https://www.em.com.br&gt; Acessado em: 26 Jan. 2019

Brasil lidera mercado de carne para muçulmanos, entenda por quê<https://www.em.com.br&gt; Acessado em: 26 Jan. 2019

Ministério das Relações Exteriores <http://www.itamaraty.gov.br&gt; Acessado em: 26 jan. 2019

Mercosul <http://www.mercosul.gov.br&gt; Acessado em: 26 jan 2019

SARFATI, Gilberto. Teoriad de Relações Internacionais. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.